Viver de forma sustentável: “Ninguém tem de passar do oito para o oitenta”

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Viver de forma sustentável: “Ninguém tem de passar do oito para o oitenta”

A consciência ambiental do consumo de produtos de origem animal e derivados está a conquistar a vida dos novos adultos portugueses. Inês Lima, 22, estudante de Comunicação Aplicada, na Universidade Lusófona do Porto (ULP), explica o porquê de viver de forma mais sustentável.

“Foi em 2016 que um grupo de amigos de Viseu começou a pensar nisso, e nós todos em grupo começamos a falar um pouco desses assuntos”, recorda a estudante de 22 anos, referindo que os seus amigos lhe mostraram “vídeos e documentários, sobre a forma como eram tratados os animais maioritariamente na produção de gado”.

Inês Lima com o cão de família, envolvida pela natureza.
[Imagem cedida pela entrevistada]

Ao analisar a crueldade, devido ao consumo excessivo a que os animais são sujeitos, Inês iniciou a sua jornada diminuindo “o consumo da carne e depois, gradualmente, a utilização de produtos noutras áreas, como na moda incluindo produtos de cosmética”.

Os termos veganismo e cruelty free surgem na sua vida como resultado desta mudança que tanto a estudante universitária, como cada vez mais portugueses adotam. Ser vegan não está necessariamente relacionado apenas com a alimentação e com o facto de não comer carne. Também implica não consumir nenhum outro produto animal, o que inclui vestuário, calçado, acessórios de moda, cosméticos, artigos de higiene e outros artigos do dia-a-dia. Categoriza-se como um estilo de vida, que tem em conta o ambiente, o desperdício de recursos e ainda o sacrifício de animais, para criação de produtos de roupa. Ou até mesmo testes de produtos de cosmética. Deste último ponto deriva o termo cruelty free encontrado em vários rótulos, indicando que determinado produto não produziu experiências em animais ou os sacrificou.

Inês explica ainda que tenta “reduzir cada vez mais o consumo de produtos animais”. Mas, admite, não pode dizer que é “100% vegan”, visto que, na perspetiva da estudante, a refeição em família é vista como momento de partilha. Por isso,  quando visita a sua família em Viseu, tende a comer peixe para que não tenham de mudar o menu para algo que não fiquem confortáveis a comer. Contudo a sua vida no Porto é completamente vegan, tendendo a experimentar diversos alimentos que se encontram como alternativas tanto ao peixe como à carne ou derivados. A jovem ainda está em transição para uma vida completamente vegan.

Fast Fashion ou Segunda mão?

No que diz respeito à procura de produtos relacionados com a indústria da moda, a estudante refere que atualmente é mais simples encontrar marcas tanto portuguesas, como internacionais, que apresentam variadas alternativas. Começa por mencionar a marca Lemon Jelly, apoiando a ideia dos portugueses consumirem mais marcas nacionais, atribuindo-lhes reconhecimento por promoverem a sustentabilidade e a consciência ambiental. Menciona também a The Bam and Boo que é uma marca de escovas de dentes de bambu portuguesa, originada na cidade de Lisboa, que desenvolveu também uma pasta de dentes amiga do ambiente.

Apesar de conhecer variadas marcas sustentáveis, vegan e cruelty free, Inês nota que não se limita apenas a comprar produtos desse nicho. Ela continua a comprar em lojas que lhe são mais familiares, mas simplesmente presta mais atenção “às etiquetas, para só comprar dessas marcas os produtos que são vegans, até porque as diferenças de preços são discrepantes, uma vez que os produtos de marcas 100% vegan normalmente apresentam valores mais elevados”.

Comprar em lojas de artigos em segunda mão ou vintage está nos planos da jovem, mas ainda não ganhou coragem, para o fazer. Sabe que “a indústria têxtil é uma das mais poluentes, pelo facto das lojas operarem numa máxima de fast fashion“. Ela sublinha que: “Mesmo que não estejam a usar produtos de origem animal, a cada estação produzem uma coleção com tendências novas e esse próprio conceito é extremamente poluente, e se utilizarem produtos de origem animal ainda se torna mais prejudicial.”

Refere que os meios de comunicação social são um ponto fulcral na abordagem sobre o tema, na tentativa de incutir nos cidadãos uma vida mais consciente. Apesar de só ter iniciado este estilo de vida há quatro anos, sente um grande aumento na quantidade de movimentos nomeadamente “iniciados pela Greta Thunberg, vendo muita preocupação em geral com a sustentabilidade, sendo evidente que tal implica igualmente as questões do cruelty free e veganismo.” Sente-se com sorte por ser “muito mais fácil alterar hábitos, na atualidade, porque existe mais informação disponível.”

Imagem cedida pela entrevistada.

Como forma de motivação para outras pessoas que queiram iniciar este estilo de vida em harmonia com a natureza, Inês Lima assegura que “a transição não é impossível, não é difícil fazer alterações de hábitos.”

Aliás, ela acrescenta que: “ninguém tem de passar do oito para o oitenta; de transitar drasticamente para um novo estilo de vida e começar a tomar escolhas ‘perfeitas’”. Se, a cada dia, as pessoas tentarem fazer uma pequena mudança de hábitos, sublinha a estudante de Comunicação Aplicada, “iremos aos poucos tentar alterar os estilos de vida. Não promovo pararem de comer carne, apenas a moderarem o consumo de produtos de origem animal e derivados.”