YouNDigital e #infomedia: aprender a sair da zona de conforto à procura de histórias

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YouNDigital e #infomedia: aprender a sair da zona de conforto à procura de histórias

Estudantes universitários de Portugal e de Macau reforçam o valor das redações online no contexto académico e jornalistas nacionais, da Guiné-Bissau e do Brasil, denunciam as violações de direitos humanos e tentativas de instrumentalização. Eis os destaques no lançamento da redação online YouNDigital, no dia 20 de fevereiro, na Universidade Lusófona – Centro Universitário do Porto.

[TEXTO DE ANA VASCONCELOS E INÊS RODRIGUES | FOTOS DE RAFAEL PINTO E INÊS RAMOS]

A redação online YouNDigital, em parceria com o #infomedia, conta já com vários artigos publicados por finalistas da Licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade Lusófona- Centro Universitário do Porto (ULusofona – CUP) e estudantes da Licenciatura em Comunicação e Média, da Universidade de São José, em Macau.

Lançada no dia 20 de fevereiro, a redação YouNDigital tem cinco idiomas: português, espanhol, inglês, francês e italiano. É com o objetivo de criar “um espaço facilitador da ação participativa dos jovens, promovendo uma voz ativa e crítica ” que esta redação se estreou entre os estudantes de jornalismo da ULusofona-CUP. A diversidade da utilização de imagens, vídeos e texto são as expectativas das investigadoras e coordenadoras Maria José Brites e Teresa Sofia Castro.

Alexandra R. de Sousa, licenciada em CC
Diana Cunha e Ana Vasconcelos, finalistas de jornalismo

O evento foi dividido em duas sessões. A primeira (10:30-11:00) arrancou sob o tema “Jovens, Notícias e Cidadania Digital”, com a presença dos estudantes de jornalismo Fernando dos Santos Queiroz e Fábio Tavares da Universidade de São José, em Macau, da ex-estudante da Licenciatura em Ciências da Comunicação (CC) da Universidade Lusófona – Centro Universitário do Porto, Portugal, Alexandra Ribeiro de Sousa e das finalistas Diana Cunha e Ana Vasconcelos. A conversa foi moderada pelo finalista de CC Mateus Carvalho.

“O que é que os jovens conseguem trazer de novo para uma redação?”, foi o mote da conversa com os jovens estudantes, os quais partilharam as dificuldades daquilo que é “procurar histórias na rua devido à rede de conexões limitada e por isso, procurar fontes”, tal como enfatizou Fábio. Já Fernando confessa que aprecia o desafio de “sair da zona de conforto”. Para ele, a aquisição de conhecimentos e a curiosidade jornalística ultrapassam qualquer receio. Para Fábio e Fernando, a importância dos trabalhos publicados no YouNDigital é grande, na medida em que se apresenta como uma “porta aberta” para todos os que querem conhecer os trabalhos dos jovens universitários.

Na perspetiva de Alexandra Ribeiro de Sousa, estas plataformas digitais abrem espaço e liberdade a pessoas que querem fazer a diferença ao abordar alguns temas menos abordados nos meios de comunicação social. A também autora do livro infantojuvenil “As traquinices da Tucha” defende a importância de se apostar numa linguagem de “palavras limpas”, de modo a que as crianças compreendam as mensagens e não façam alteração de sentido às palavras mais comuns.

De acordo com Ana Vasconcelos e Diana Cunha, trabalhar com estas plataformas digitais permite enfrentar o desafio de “contar histórias” e de trazer à luz eventos e narrativas que, muitas vezes, são desconhecidas. Além disso, permite a muitos estudantes saírem da sua “zona de conforto” superando a timidez e a hesitação em comunicar com diversas fontes.

Depois acrescentam as estudantes, um dos principais pontos fundamentais do trabalho com estas plataformas é a reflexão sobre a responsabilidade ética enquanto jornalistas, que permite um grande “compromisso com a verdade”, exercitando a “integridade jornalística”. Um jornalismo “rico, diversificado e inclusivo”, no qual todos têm a possibilidade de “ter voz” é possível quando se trabalha “em conjunto para travar os desafios que o jornalismo ainda enfrenta”.

Miguel Midões, professor universitário e jornalista

Jornalismo, poder local e clima de intimidação

Na segunda parte da manhã (11:00-13:00), Miguel Midões, jornalista e professor universitário na Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico de Viseu, partilhou a sua experiência jornalística, incidindo sobretudo acerca das tentativas de instrumentalização do poder local. Desta vez, com moderação de Alexandra Ribeiro de Sousa, abordou-se assuntos como a responsabilidade do jornalismo, a curiosidade, o compromisso com a verdade e a possibilidade de o Jornalismo funcionar como um agente de mudança.

Miguel afirma que o jornalismo da atualidade “não está a ser feito com a responsabilidade necessária”, criticando a falta de reflexão que existe dentro das redações. Os “jornalistas de agenda” tornam-se cada vez mais comuns para o jornalista. “Ser jornalista não é estar sentado numa secretária, ser jornalista implica encontrar histórias na rua”, afirma.

De seguida, foi a vez da jornalista da Guiné-Bissau Maimuna Bari tomar a palavra, partilhando uma experiência pessoal de intimidação e violação de direitos humanos. Maimuna é licenciada em jornalismo pela Universidade Lusófona de Guiné-Bissau. O segundo ataque à rádio Capital, onde trabalhava, fez com que a jornalista fosse evacuada para Lisboa por razões de proteção e segurança. A sua história é um exemplo de sobrevivência à repressão da liberdade de imprensa e de quem, mesmo a quilómetros de distância, continua a lutar pela liberdade de imprensa e de expressão. Os ataques foram em consequência críticas sobre a política repressiva na Guiné-Bissau. Maimuna, uma das locutoras, falava sobre isso abertamente. “As pessoas confiavam na rádio pela liberdade de expressão. A corrupção é um dos problemas que a rádio capital fala sempre. São este tipo de assuntos que incomodam”, admite. Segundo confidencia, faz jornalismo “por amor à pátria e espera, um dia, conseguir terminar o livro que está a escrever”.

A finalista de jornalismo Diana Cunha terminou a sessão com um resumo das experiências partilhadas pelos convidados. Destacou as partilhas do Miguel Midões e da Maimuna Bari que demonstraram a realidade do jornalismo e a capacidade que os jornalistas têm de “mudar a história”. Agradeceu ainda em nome dos estudantes finalistas de jornalismo a todos os que contribuíram para a realização deste evento.

Rui Barros, professor universitário e jornalista
Público

A primeira parte da tarde (14:30-15:00), contou com a presença de mais convidados que contribuíram com a partilha de histórias sobre jornalismo, liberdade e direitos humanos. Participaram na sessão a professora, jornalista e investigadora Vanessa Ribeiro-Rodrigues, a ex-estudante da Licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade Lusófona – Centro Universitário do Porto, Portugal, Alexandra Ribeiro de Sousa, a finalista Inês Costa e a estudante de Erasmus María Ortega, Espanha. A conversa foi moderada pelo finalista de CC Daniel Coutinho.

Vanessa Ribeiro-Rodrigues salientou a importância de se formar jovens jornalistas para promover práticas de cidadania e de literacia mediática e salientou a importância de plataformas de reflexão crítica como o YouNDigital abram espaço para a participação dos jovens.

Alexandra, Inês, María e Daniel (da esquerda para a direita)

Na perspetiva de Inês Costa e María Ortega, trabalhar com o #infomedia é uma experiência que tem contribuído para a aprendizagem jornalística. Além da abordagem correta da escrita jornalística permite estar a par de diversas histórias. A estudante de Erasmus María Ortega partilha a sua experiência ao entrevistar o “campeão mundial de golfe para cegos” e admite estar “bastante satisfeita” com estas plataformas digitais. Já a estudante Inês Costa refere-se a estas plataformas como “algo novo e interessante” porque se diferencia de todas as abordagens jornalísticas que os estudantes tiveram contacto ao longo da licenciatura.

“Dar voz… e saber escutar”.

De acordo com Miguel Midões o jornalista deve abrir espaço para que as pessoas menos representadas possam falar dos seus problemas e que o papel do Jornalismo é saber escutar. É assim que inicia a segunda parte da sessão (15:00-16:30), com a moderação de Alexandra Ribeiro de Sousa à conversa com o professor universitário, na qual é reforçada a partilha de experiências das suas reportagens. Ele explica, também, que não há jornalismo feito a partir de uma secretária, mas sim ir à rua e falar com as pessoas. No final, o jornalista deixa um conselho para todos os que querem ingressar nesta profissão: “Não podemos mudar o mundo, sem antes mudar o bairro”.

Andréia Peres, jornalista da Cross Content e colunista da revista Veja

Ainda neste painel, juntou-se à conversa Andréia Peres, jornalista da Cross Content e colunista da revista Veja. Especializada na cobertura de temas sobre justiça social e direitos humanos já teve em capas dos seus trabalhos temas como a pobreza no brasil e o direito das crianças. A jornalista reforça que “a informação é um direito humano”, e que garantir o acesso universal à informação é fundamental para uma sociedade mais justa e democrática.

Com esta sessão, destacou-se a importância do YouNDigital e do #infomedia na formação de futuros jornalistas e na promoção de um jornalismo ético e preciso. Os convidados revelaram as suas experiências ao público e mostraram como trabalhar com estas plataformas modificou o início do percurso no mundo do jornalismo. Mesmo no término do evento, ficaram evidentes os diversos desafios que o jornalismo ainda encontra e a oportunidade de os combater para tornar o jornalismo mais diversificado, inclusivo e no qual exista a oportunidade de ser ouvidos.

Convívio entre oradores, convidados e investigadoras
Ines Rodrigues

Inês Rodrigues, 20 anos. Estou no curso de Ciências da Comunicação e pretendo expandir a minha formação até conseguir realizar o meu sonho: ser locutora de rádio.