Alunos com deficiência visual têm professores que não sabem braille
- Nuno Canossa
- 22/10/2024
- Atualidade Portugal
Apenas uma hora de acompanhamento escolar por semana e ausência do ensino da escrita braille nas escolas são as principais queixas da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal do Porto. Sindicato dos Professores do Norte culpa Ministério da Educação pela falta de formação e pela escassez de recursos humanos.

“Não cabe na cabeça de ninguém um professor de ensino especial não saber braille”, comenta Edna Ferreira, tesoureira da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) do Porto. “Não há professores qualificados, nem o tempo suficiente para estar com estas crianças. Uma hora com um professor de ensino especial não faz nada”. Os relatos de Edna e Ana Bessa, também membro da direção da ACAPO – Porto, surgem das dezenas de alunos e pais que passam pela associação, queixando-se da falta de qualificação e de acompanhamento dos professores de ensino especial.
O problema é que “o Estado não disponibiliza recursos suficientes e não dá a formação necessária” a professores que “para dar resposta ao aluno, têm de se autoformar”, explica Ondina Maia, responsável pelo departamento da Educação Especial do Sindicato de Professores do Norte. Na maioria das escolas, é designado pelo menos um professor de educação especial formado para acompanhar alunos com deficiências mentais, a quem são atribuídos os estudantes com deficiência auditiva ou visual. “Os professores, perante esta situação, desdobram-se, mesmo sem meios, tentando dar as respostas necessárias”, mesmo quando implica investir financeiramente na sua própria formação. Ondina Maia lamenta ainda que estes alunos tenham de ser reencaminhados para escolas de referência, perdendo contacto com amigos e comunidade.
É o caso da Escola Secundária Rodrigues de Freitas, a única escola de referência em todo o concelho do Porto. Fernando Correia, um dos professores de educação especial, confirma que a escola tem “apoios para todas as áreas de ensino” e um corpo docente “altamente especializado quer em braille, quer em tecnologias de informação e comunicação”.

A falta de recursos humanos também se sente na Rodrigues de Freitas. “Chegamos a meio do ano e não temos quem colocar”, lamenta Fernando Correia que, perante a falta de qualificação dos docentes do ensino especial, lembra que “a lei prevê que o braille é um direito”.
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