A queda dos jogos Santa Casa

Voltar
Escreva o que procura e prima Enter
A queda dos jogos Santa Casa

[Texto de Ana Araújo]

Os jogos, como a Raspadinha, o Placard e o Euromilhões tiveram sempre muita procura por parte dos portugueses e as vendas deste tipo de jogos sempre foi elevada. Porém, com a pandemia e com um país fragilizado pelo constante isolamento, será que a procura foi a mesma? 

Segundo o Relatório&Contas de 2020 dos Jogos Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, indicam que houve impactos por causa da pandemia, além de muitos desafios para ultrapassar, “No futuro, quando as gerações vindouras analisarem o ano de 2020, não existirão dúvidas de que o mundo, as pessoas, a economia e as empresas mudaram radicalmente, de uma forma nunca antes imaginada, sendo já possível afirmar que o século XXI será, indelevelmente, marcado por dois momentos: o antes e o pós Covid-19.” 

Devido à pandemia, os portugueses depararam-se, sobretudo no último ano, quer com a redução de salários, quer com a reorganização das suas rotinas, a par de questões emocionais como angústia e a insegurança. Segundo dados de ano do Banco de Portugal a queda do Produto Interno Bruto foi de 8,1%, a do Consumo privado foi de 6,8% e a do emprego foi de 2,3%, desse modo a taxa de desemprego foi de 7,2%. 

Ou seja, um menor poder de aquisição refletiu-se num menor consumo de jogos de fortuna, de azar e modalidades afins, como os Jogos Santa Casa, e os que tiveram maior queda foram o Placard e o Totobola., Além disso, muitas das práticas desportivas foram suspensas em tempo de pandemia. Depois, a Raspadinha foi o terceiro jogo a ter um impacto negativo, chegando a registar uma descida de 61%. 

Perante as advertências, os Jogos Santa Casa tiveram que reagir para contornar toda esta situação. Nesse sentido, o departamento de jogos, “implementou um conjunto de medidas com as quais pretendeu mitigar os efeitos negativos nos mediadores, nomeadamente a redução das receitas provenientes das remunerações pagas pelos apostadores, por forma a salvaguardar a sua viabilidade económica e a continuidade dos cerca de 16.000 postos de trabalho a eles associados”. Criaram, assim, as condições necessárias para que, apesar de todos os constrangimentos resultantes da pandemia, a rede de mediadores se mantivesse em funcionamento respeitando todas as regras de segurança. 

A Santa Casa tem cerca de cinco mil pontos de venda espalhados pelo país, indo a alguns desses pontos de venda do Norte do país, observou-se documentos das vendas do ano de 2019 e 2020 para comparar e perceber se a queda foi realmente notória e também para perceber se estes dados vão ao encontro dos dados da Santa Casa. 

De acordo com os dados, evidencia uma enorme discrepância de um ano para o outro em todos os estabelecimentos. “Foi notória, também se deve muito ao facto de se ter reduzido o horário semanal. Mas a diferença é realmente absurda de um ano para o outro”, disse José Rocha, gerente de um estabelecimento de jogos. Além disso, devido ao cenário em questão, viu-se obrigado a dispensar alguns empregados. 

Ainda de acordo com o relatório de 2020, em 2019 as vendas brutas foram calculadas em 3360 milhões de euros. Já em 2020 foram de 2768 milhões de euros, ou seja, menos 591 milhões de euros, e que corresponde a uma diminuição de 17,6% relativamente ao ano de 2019. 

Relativamente aos jogos, em apostas mútuas, em 2019 foram feitas 931 milhões de apostas e, em 2020, foram feitas 749 milhões de apostas, ou seja, houve uma diminuição de 19,6% em comparação ao ano de 2019. 

As raspadinhas foi onde os portugueses apostaram mais. Em 2019 houve 1718 milhões de euros apostados, porém em 2020 houve uma diminuição de 16,2% com cerca de 1440 milhões de apostas feitas. 

Todos estes dados fornecidos pela Santa Casa vão de encontro ao que foi dito pelos comerciantes de todos os estabelecimentos, e uma funcionária faz a confirmação de que as Raspadinhas sempre foram o pedido mais frequente por parte dos clientes dizendo que “É muito mais frequente as raspadinhas do que qualquer outro jogo, os clientes jogam o que parece mais fácil de ganhar e também sabem logo se têm dinheiro ou não”, afirma Gabinia Teixeira, funcionária de um quiosque.

Foi feito um inquérito a vários clientes de estabelecimentos diferentes para saber a opinião de cada um sobre toda esta situação.

 Quando questionados se alguma vez deixaram de “consumir” este tipo de jogos por ser dispendioso, 36% responderam que não e 64% disse que sim, também foram questionados se por não terem jogado alguma coisa tinha haver com a pandemia, em que a resposta de 36% foi não e 64% respondeu que sim, foi feita também uma questão a perguntar se na opinião dos mesmo as vendas tinham diminuído devido à pandemia, em que a resposta da maioria foi sim com 42%, 32% disse que não tinha qualquer tipo de opinião sobre o assunto e 26% respondeu dizendo que não. 

No final do ano, os efeitos da pandemia nos Jogos Santa Casa traduziram-se numa queda de vendas de 17,6%, o que correspondeu a 591 milhões de euros, invertendo abruptamente uma trajetória já longa de sucessivos records anuais de venda. 

Para este ano esperam melhores resultados, uma vez que a situação pandémica se encontra mais regularizada, “em 2021 e tendo em vista a salvaguarda do financiamento das Boas Causas e do retorno social que advém da exploração dos jogos sociais, voltou a ser acionado o plano de continuidade de negócio focado nos processos críticos do DJSCML (Departamento de Jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa), o qual visa a minimização do impacto na atividade e a preservação da capacidade plena aquando da retoma da economia”,disse Edmundo Emílio Mão de Ferro Martinho, Provedor da Santa Casa.