Estudam para trabalhar e trabalham para estudar: cresce o número de trabalhadores-estudantes em Portugal

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Estudam para trabalhar e trabalham para estudar: cresce o número de trabalhadores-estudantes em Portugal

O número de estudantes que trabalham aumenta todos os anos. Eram 41 mil em todo o país, no ano letivo 2023/24, o registo mais elevado da última década. O crescimento reflete as dificuldades socioeconómicas do país, acompanhado pela subida dos custos de vida e das despesas associadas ao ensino superior.

De acordo com os dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), 9,2% dos estudantes inscritos nesse ano também trabalhavam, um aumento de 6% face ao ano anterior, com mais de 39 mil trabalhadores-estudantes.

O aumento do custo de vida, a crise habitacional, a inflação e a insuficiência de apoios sociais têm levado um número crescente de estudantes a procurar emprego. As consequências de dividir a vida entre o trabalho e a faculdade refletem-se no estado físico e mental cada vez mais exigente do trabalhador-estudante.

O estabelecimento de ensino concede um estatuto para que o aluno trabalhador possa usufruir de alguns benefícios, mas varia consoante a instituição. De acordo com a Federação Académica do Porto (FAP), a frequência no ensino superior é marcada por significativas desigualdades no que respeita à relação entre diferentes instituições e estudantes. Ainda assim, “o direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar é uma garantia constitucional”, explica Francisco Porto, presidente da FAP.

Beatriz Oliveira, de 20 anos e aluna da Faculdade de Letras do Porto, é trabalhadora-estudante com um part-time na Amnistia Internacional. No ano passado, tinha estatuto e, apesar de trabalhar por gosto, revelou sentir-se sobrecarregada. O trabalho face a face na rua “requeria estudo prévio, encontrar os melhores argumentos para levar pessoas a apoiar a Amnistia”, diz. Numa rotina de trabalho de 5 horas por dia relata que saía de manhã e chegava de noite, com pouco tempo para estudo, e quase nenhum para ir às aulas presenciais. Beatriz Oliveira realça que a maior ajuda do estatuto foi permitir a realização de exames em épocas especialmente designadas: “Sem o estatuto, não conseguiria fazer as duas coisas”, admite.

Rita Marques, de 21 anos, militante do movimento Juventude Operária Católica (JOC) e estagiária na Escola Superior de Desporto de Rio Maior, dá atividades extracurriculares (AECs) uma hora por dia e treinos de ginástica acrobática duas vezes por semana. Enquanto as AECs são um trabalho que a ajuda a pagar o combustível e despesas com o carro, os treinos fazem parte do seu gosto pela ginástica. “O facto de trabalhar deu-me liberdade de poder estagiar onde eu quisesse e abraçar a ginástica”, partilha.

Nos últimos dois anos, Rita Marques nota que há muita gente a trabalhar, sobretudo, em cafés, lojas, supermercados, bares para pagar a renda, alimentação e outras despesas.

Rita Marques, jocista (JOC) e estudante de Desporto, Condição Física e Saúde
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Desde cedo, a Unilinkr, uma plataforma de marketplace universitário que facilita o trabalho associado à procura de emprego entre jovens estudantes, compreendeu as necessidades deste público. O objetivo é proporcionar maior independência financeira ao universitário. A app reúne estudantes de todos os distritos, sendo os festivais e restauração os serviços mais procurados. Entre eles existe maior atratividade por trabalhos mais pontuais e em horários mais curtos. André Relvas, fundador da Unilinkr acredita que “ maioria das pessoas que trabalha para ganhar dinheiro. “Não pensa necessariamente na experiência logo de início, no entanto, a longo prazo acaba por ser benéfico”, adianta.

O grande número de estudantes interessados fez com que a equipa estivesse mais concentrada em arranjar postos de trabalho, procurando ofertas em empresas disponíveis. Devido ao grande número de alunos inscritos, nem sempre conseguiram preencher as vagas para todos os estudantes.