Sabores da Nonô: da Régua para a cozinha de Campanhã

[Texto, Vídeos e Fotografias: Alexandra Oliveira e Miguel Pontes]
O antigo restaurante luso-brasileiro “3 Sabores”, na Rua da Estação, em Campanhã, passou para novas mãos. Aos 47 anos, Leonor Rocha, natural do Douro, concretiza o desejo antigo de liderar o próprio negócio. “Sabores da Nonô” é o nome do novo restaurante que traz à mesa comida portuguesa, feita com alma, tradição e o toque de quem viveu toda a vida entre tachos.

Leonor Rocha nasceu na Régua, no Douro, e desde cedo aprendeu o valor do trabalho. Ainda adolescente, deixou os estudos e foi trabalhar numa quinta, onde cozinhava em potes para os trabalhadores. “Saí da escola para ir trabalhar para a cozinha. Antes disso, já cozinhava numa quinta”, explica. “Nunca tive formação. Tudo o que sei fui eu que aprendi.”
A paixão pelos sabores vem de família. “A minha avó cozinhava para casamentos em casa.”
O fim do “Canto Doce” e o recomeço em Campanhã
Há 26 anos, quando decidiu mudar-se para o Porto, começou a trabalhar em várias cozinhas, incluindo o restaurante “Canto Doce”, na Cordoaria, hoje já encerrado. “Ele fechou mesmo. Desistiu”, diz. Ao longo dos anos, acumulou experiência, mas também cansaço. “Estava farta de trabalhar para os outros, de ser desvalorizada”, confidencia.
Teve uma primeira experiência com um pequeno negócio de take away. “Infelizmente, um advogado tramou-me a vida”, desabafa. No entanto, o sonho de ter um restaurante próprio manteve-se. Quando soube, “através de um conhecido”, que o espaço do “3 Sabores” ia ficar vago, não hesitou. “Falei com o senhorio e consegui. Foi uma oportunidade.”
“Quero que o negócio corra bem. Tenho muito carinho pela cozinha e por tudo o que ela representa. Este é o meu momento.”
Leonor Rocha
Um restaurante com alma própria
À chegada, é impossível não reparar na esplanada acolhedora, onde um quadro de giz exibe os pratos do dia, num detalhe simples mas cativante. Fomos prontamente abordados por um dos membros da família, Guilherme, o filho da proprietária. Pouco tempo depois, juntaram-se a própria Leonor e a sua nora Tânia, num gesto caloroso que reforçou o ambiente familiar e acolhedor do espaço.

No interior, uma melodia suave envolvia o ambiente, criando de imediato uma sensação de conforto para a equipa do #infomedia. Embora pequeno, o espaço revela-se aconchegante, com tons de palha e iluminação quente a compor uma atmosfera tranquila e intimista. As paredes estão adornadas com ilustrações que homenageiam a cidade do Porto, em especial a icónica Ponte D. Luís. Em destaque, a bandeira portuguesa e uma citação de Fernando Pessoa. “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

Leonor batizou o espaço com o nome pelo qual é tratada com carinho “Nonô”. A isso juntou a ideia do paladar. Ficou, então: “Sabores da Nonô”. O menu baseia-se naquilo que sabe fazer melhor: comida portuguesa, tradicional e honesta.
“Os salgados são todos caseiros. Sou eu que faço tudo. Só não faço bolos de pastelaria porque não tenho tempo.” A ideia principal, informa a empreendedora, é que os clientes se sintam como se estivessem em casa. “O mais importante é que se sintam bem. Depois vêm os sabores. Vai ser comida portuguesa, mesmo. Bem feita.”

“Cozinho com alma. Sou feliz na cozinha.”
Quando se pergunta qual é o seu prato favorito, não consegue escolher. “Gosto de cozinhar todos”. No entanto, durante a nossa conversa, conseguimos perceber que o bacalhau, as bifanas e o arroz de pato são os seus pratos preferidos de confecionar. E a inspiração? “Inspiro-me em mim. Sei lá. Eu gosto de cozinhar. Quando se gosta, cozinha-se com alma.”
A cozinha, para Leonor, é mais do que um trabalho: é um refúgio e um lugar de sentido de vida. “Sou feliz na cozinha. E toda a gente percebe isso.”
Apesar de ainda estar a adaptar-se ao novo espaço, já tem planos para o futuro. “Para a semana já vou ter as ementas impressas. E quero implementar outros pratos: salmão grelhado, bacalhau à Braga, bacalhau com broa, filetes com arrozinho de tomate… até comprei uns tachinhos todos chiques.”
Uma nova etapa servida com arroz, bacalhau e sonhos
Campanhã é uma zona em mudança, onde novas histórias se cruzam todos os dias. A de Leonor Rocha é uma delas. Vinda da Régua, chegou ao Porto com vontade de vencer. Hoje, lidera o “Sabores da Nonô” com humildade, sabedoria prática e muito coração.
Mais do que uma nova cozinha na cidade, o restaurante é o reflexo de uma vida de trabalho. E de um sonho que agora se serve à mesa, todos os dias, com arroz de tomate, bacalhau à moda antiga e o sabor de quem acredita que cozinhar é, no fundo, uma forma de cuidar.