Beatriz Bravo: estudar longe de casa, por um sonho.
- 16/06/2025
- Arte e Culturas Geração Z Sem categoria
Beatriz Bravo tem 20 anos e estuda em Vila do Conde. Apesar de ser longe da sua área de residência, acredita que vale a pena para fazer o que gosta.
A primavera está a chegar. O sol é quente, o céu está azul, a brisa é amena e dá vontade de deixar os casacos em casa e vestir algo mais fresco.
Quando se chega ao local combinado, Beatriz Bravo já está lá, sentada numa escadaria a olhar para o telemóvel. Tem cabelo preto, olhos castanhos e pele clara. Está a usar um casaco com padrão axadrezado em tons azuis e verdes. Usa calças de ganga, sapatilhas pretas e tem ao ombro direito uma carteira de cortiça.
Levanta-se e cumprimenta quem chega para entrevistá-la. O seu sorriso demonstra que está confiante em conversar.
Beatriz Bravo tem 20 anos e é estudante universitária na Escola Superior de Media Artes e Design, em Vila do Conde. Nesse curso, aprende a fazer programação, animação, trabalha com som e vídeo. É um curso direcionado para o desenvolvimento e realização de espetáculos.
Mas fora da universidade, Beatriz desenha muito. “Neste preciso momento gosto do que estou a fazer. Porque estou a criar um jogo que decidi criar. É simples, em estilo pixel, de terror, ainda está no início.”
Beatriz só tem duas unidades curriculares neste semestre e, em ambas, a estudante universitária tem de desenvolver um videojogo. Entre fazer estágio ou desenvolver um projeto, Beatriz diz que prefere desenvolver um projeto porque não acreditava que ia ter muita sorte em arranjar estágio.
Fazer projetos em 2D permite a Beatriz desenhar com mais frequência e deixar a parte computacional um pouco de lado. “Aqueles que conseguiram arranjar estágio tem a ver com modelação 3D. Tens de saber modelar tudo no computador”.
E para fazer projetos em 2D permite a Beatriz desenhar com mais frequência e deixar a parte computacional um pouco de lado.
Um dos maiores problemas desta estudante é a universidade ser muito longe. Um dia, estava a editar um vídeo no metro e distraiu-se, fazendo com que fosse parar à Povoa de Varzim. Como era de se esperar, chegou atrasada. Mas, mesmo assim, chegou antes do professor.
Houve trabalhos em que Beatriz tinha de desenhar em papel linóleo, que é um tipo de papel mais grosso, é um pouco caro, e são necessárias ferramentas especificas para moldar e trabalhar esse papel. Nesse papel, Beatriz desenhou cartas do filme “Alice no país das maravilhas”. Também fez coisas com aguarelas para a mesma cadeira onde utilizou este papel.
Beatriz diz que sempre gostou de desenhar. Em criança fazia desenhos de princesas da Disney a marcador, e ainda hoje guarda esses desenhos. O amor pelo desenho nasceu aí.
Para ela, os melhores desenhos animados que já viu são “Maya e os três guerreiros”. É um estilo de cartoon semelhante ao “libro de la vida”.
Alguns dos seus hobbies preferidos são jogar jogos e ver documentários sobre serial killers.
Para Beatriz criar um videojogo, é preciso criar uma história. Por isso, criou a de uma rapariga que é empregada de limpeza num teatro e tem de limpar o sótão. Enquanto limpa, encontra uns sapatos azuis, e quando os calça, tem flashbacks da rapariga que antes usava esses sapatos. A menina descobre que está presa no teatro e vai ter de tentar sair de lá sem morrer. Alguns dos desafios que a personagem tem de enfrentar são abrir portas e completar tarefas que se escondem atrás de cada uma delas. “Para além disso, tem de dançar ao ritmo de uma música para não morrer.”
Sobre jogos de terror que alguma vez jogou, Beatriz começou a rir-se, colocou a mão no queixo e pôs-se a pensar. Depois de algum tempo, respondeu que “Mad father”; “Poppy play time” são alguns dos jogos que mais gostou de jogar.
Depois de algum tempo, pedimos à Beatriz para desenhar um jarro de flores numa folha de papel que trouxemos a conversa. Enquanto desenhava, Beatriz confessou que gosta de ouvir música enquanto desenha.
O processo de fazer um desenho depende daquilo que estivermos a desenhar. Beatriz disse que se estiver só a afazer um pouco de sketching, pode demorar só 20 minutos. Mas, se estiver a fazer um desenho importante para um projeto, pode demorar 3 a 5 horas a desenhar, depende sempre do que se quiser fazer.
Beatriz não desenha muito em papel, desenha mais no tablet ou no computador.
Enquanto continuava a desenhar, pergunta-se o que pretende fazer com o seu videojogo quando o acabasse. “Todos os direitos serão entregues à universidade”, diz, por isso, Beatriz não poderá ficar com ele. O seu trabalho passará a ser da universidade. Apesar de ficar no currículo, Beatriz não se importa de perder o jogo. Diz que fará um novo se quiser, e será até melhor, porque, para ela, fazer isto é muito fácil.
Esta jovem universitária, também já fez exposições em museus. Não vai a tantos museus como gostaria, mas revela que já foi a metade dos museus que queria ir em Portugal.
De repente, Beatriz para de desenhar e pergunta que flor é que quer que ela coloque no desenho que está a fazer. “Girassol”, responde-se.
Beatriz diz que já foi ao Louvre e a sua pintura favorita foi uma pintura que se chama “Os dois príncipes da torre”. Esta pintura conta a história de dois príncipes que desapareceram de um dia para o outro e que, por isso, são comparados ao rei Dom Sebastião, desaparecido sem deixar rasto.
Beatriz revelou que gosta muito de mitologia grega e que o seu deus preferido é Apolo, deus do sol. Quando foi ao Palácio de Versalhes, disse que gostou muito de ir lá porque o rei Luís XIV tinha muitas coisas relacionadas com Apolo porque admirava esse deus. Por essa razão é que o rei francês era chamado de rei Sol, porque também tinha um fascínio por Apolo.
O escultor favorito de Beatriz é Bernini. Para além de ter sido “muito bom escultor”, “a sua arte tem um significado”. Por sua vez, ela não gosta do estilo artístico do cubismo nem de Picasso, porque considera que, para ela, “esse estilo não tem um significado”.
“Pintar por pintar já é um significado, porque estás a precisar de pintar.”
Beatriz Bravo
Sobre o “urinol” de Duchamp., ela diz que “há certa arte que só é arte porque foi feita primeiro.” Ela concorda com a crítica que Marcel Duchamp faz à arte através do urinol, mas não o aceita como arte porque é preciso que esta tenha um significado subjetivo.