Bomnal é o dia da primavera de Agnes

Entre colheres de Rabokki e temperos que desafiam o paladar português, na Rua do Bonfim, nasceu o restaurante Bomnal, um espaço onde a comida abre portas à saudade de casa, na Coreia do Sul.
Quem desce em direção ao Campo 24 de Agosto, pela rua que partilha nome com a freguesia, provavelmente, não repara na simplicidade do local que leva qualquer um a explorar as fronteiras gastronómicas. Este é o caso do Bomnal.

Bomnal Korean Cuisine, Rua do Bonfim 107
A entrada deste espaço abre portas a um lugar de gastronomia e cultura de um casal natural de Seul, na Coreia do Sul, mas que viveu cinco anos na ilha de Jeju, a sul da península coreana. Agnes – tradução para português de Yifyoung – recebe com simpatia, enquanto o marido, Dong Wan Choo, preparava a cozinha para o turno do jantar.
A vinda para Portugal
Surgiu uma certa curiosidade em perceber o que leva um casal a emigrar de um país que supera Portugal em todos os rankings do PIB per capita. “Queríamos que o nosso filho fosse para uma escola internacional e em Jeju havia muitas, que ele conhecesse muitas culturas. Viemos para Portugal, porque ouvimos falar bem do país, toda a gente sabe falar inglês. Estamos cá há dois anos, é muito parecido com Jeju” – assim explicou Agnes o porquê de escolher o nosso país para viver. “No ano passado vivíamos em Matosinhos, agora vivemos perto da Casa da Música”
Quando decidiram fazer as malas e atravessar dois continentes, Dong, o marido de Agnes, aprendeu a arte de produzir Makgeolli, um vinho típico da Coreia do Sul, feito a partir do arroz. “Pretendíamos abrir um restaurante de Makgeolli, mas não encontramos o espaço certo para produzir. Percebemos que não podíamos ter um restaurante de Makgeolli, no entanto, precisávamos de trabalhar em algo, então decidimos abrir um restaurante coreano, porque sabemos cozinhar melhor que outras pessoas.
Pratos mais tradicionais
“Temos muitos clientes da Coreia do Sul, felizmente, gostam da nossa comida” – anuncia a co-gerente do restaurante entre sorrisos de satisfação. “Muitos até dizem que até a comida cá é melhor do que na Coreia. A maior parte das pessoas pede Bibimbap, que é o prato mais tradicional da Coreia” – ao mesmo tempo que apontava para o menu em que o prato estava representado. Este prato leva arroz, cenoura, cebola, cogumelos, curgete, rabanete, espinafre, ovo e kimchi de nabiça.
Agnes passou uns bons minutos a explicar cada prato, dos mais picantes, aos menos picantes, os que são mais parecidos entre eles e os que mais diferem. “O kimchi é nacional, mas depois em Seul fazem de uma forma, em Jeju de outra e em Gwangju de outra”. Kimchi é um prato tradicionalmente coreano preparado à base de vegetais fermentados em pimentão, alho, caldo de peixe, gengibre e outros ingredientes.
A família
A conversa não se tratava apenas de comida, era também sobre casa. A casa de Agnes. “Na Coreia toda a gente tem o KakaoTalk, podemos ligar, mandar mensagens, como o WhatsApp, que é comum aqui. Podemos fazer tudo na aplicação, é gratuita”. Confidenciou ainda que não tem mais família em Portugal.
“O meu filho tem 13 anos, chegamos a pô-lo numa escola portuguesa, mas não sabia falar português, então mudámo-lo para a escola internacional. Ele sabe falar bem inglês e está a gostar de estar cá e está a aprender português”. Por outro lado, a relação do casal com a língua de Camões parece estar mais complicada, “Nós tentamos aprender, mas é muito difícil”. Começa por explicar. “Quando vamos às compras, conseguimos comunicar em inglês, porém, às vezes, com os mais velhos temos de usar o Tradutor. É o nosso melhor amigo e às vezes também o é o ChatGPT”
No meio da conversa com o #infomedia, a sul-coreana, ofereceu-se para confecionar um prato. Passado uns minutos, levou para a mesa um rabokki, um prato que junta ramen, bolo de arroz, bolo de peixe e sushi, envolvido num molho de pimentão extremamente picante, mas de uma forma positiva. A explosão de sabores do prato é indescritível por palavras, vídeo ou fotografia

Enquanto se degusta o prato, Agnes trouxe outro prato, por cortesia, que mais uma vez não se tinha pedido, tampouco estaríamos à espera do mesmo. Era jeyuk bokkeum, uma iguaria que leva carne de porco fatiada – muito idêntica à carne das bifanas portuenses -, marinada em pasta de pimentão e refogada, juntamente com arroz e alface. Alface, essa, que trazia um molho muito particular e que não foi possível desvendar o segredo.

Agnes e o Dong não sabem quanto tempo irão ficar no Porto, mas o impacto que a cidade deixou no casal é suficiente para haver um legado portuense no coração de ambos. O Porto não é só o Porto. É casa, é Jeju.