Impacto da COVID-19 nas Relações Conjugais
Por Bárbara Couto, David Soares, Eduardo Santiago, Fábio Costa e Maria Peciña.
Em vários períodos da história verificou-se um aumento exponencial de divórcios quer no contexto português quer no espanhol, ora por alterações à lei – Portugal (2002 e 2008) e Espanha (2005) – que vieram agilizar o processo de divórcio, ora resultado de grandes crises financeiras, como aconteceu em Portugal no ano de 2011.
Atendendo a estes dados o #infomedia realizou um projeto de investigação que visa perceber o impacto da COVID-19 nas relações conjugais na península ibérica, a fim de entender se a tendência se mantém.
A pesquisa em questão assume características de pesquisa conclusiva que levou a um estudo quantitativo e qualitativo – métodos mistos – para dar respostas complementares.
Decidimos por meio de um questionário, totalmente anónimo, perceber de que forma os casais se encontram, ou não, mais fragilizados.
Aliamos depois a análise de especialistas aos dados previamente obtidos.
Recolha e análise de dados
Numa amostra de 205 inquiridos, 52% tratam-se de cidadãos portugueses e 48% tratam-se de cidadãos espanhóis.
Embora o questionário contasse com um total de 17 perguntas determinamos que, para efeitos de investigação, apenas nos serviríamos de nove.
Quanto ao género, as respostas revelaram que o sexo feminino foi o que mais contribuiu para o trabalho de investigação.
PT(por Bárbara Couto): Segundo a psicóloga Cláudia Leal, no contexto Português, 80% dos divórcios são pedidos por mulheres.
De acordo com a psicóloga, “as mulheres são mais emocionais por natureza e menos satisfeitas. O homem como é mais racional e prático tende a desvalorizar esses problemas conjugais e a “acomodar-se””.
ES(Por Maria Peciña): En España, según la psicóloga Nerea Ortega las mujeres estamos más dispuestas a profundizar. En la cultura española tradicionalmente, tenemos esta tendencia a reflexionar más sobre cómo nos sentimos y cómo mejorar las cosas. En cambio en los hombres, aunque está cambiando, pero normalmente hasta que no reviente todo no abordan el asunto.
Antes de tudo, procuramos perceber qual a faixa etária predominante, o estado civil se os casais estão em confinamento com o parceiro bem como o tempo que passam juntos nesta fase. De forma a obter uma melhor compreensão dos restantes dados e resultados recolhidos.
Anteriormente a maioria dos casais não tinha pensado em divórcio
PT (Por Fábio Costa): Segundo Advogada Mafalda Rosa (célula profissional: 45077E), “no início da pandemia os casais passavam por um período de adaptação, mas nesta fase isso já tinha acabado, verificando-se um aumento da litigiosidade.”
(Por David Soares): Ricardo Campos, outro dos psicólogos com quem entramos em contacto, acrescenta que “muitos casais, até à data de confinamento, não se conheciam verdadeiramente devido às rotinas atribuladas. Após a implementação do estado de emergência e o facto de conviverem 24 horas, os casais acabaram por conhecer, indiscutivelmente, todos aspetos positivos e negativos do seu parceiro (a).”
Após se depararem com o convívio diário e com uma nova realidade, “muitos casais apercebem-se que parceiro (a) revelou ter atitudes e comportamentos, longe do que era esperado.”
ES(Por Maria Peciña e Eduardo Santiago) : La psicóloga Nerea Ortega afirma que existen estudios que demuestran que las mayores tasas de divorcios se dan en septiembre, después de pasar todo el mes de vacaciones juntos. En una fase de Covid, que no puedes hacer una vida social fuera de tu pareja ha sido horroroso. Yo diría que un 30 o 40% de las parejas no solo lo han pensado, sino que lo han hablado.
El abogado Adolfo Viguera afirma que ahora están recibiendo muchas llamadas en las que solicitan el inicio del proceso de divorcio de su pareja
Os filhos podem desmotivar o avanço com o processo de divórcio
PT (Por Bárbara Couto, David Soares e Fábio Costa):Veja aqui a explicação da Socióloga Isabel Santos
(Por David Soares): Também o psicólogo Ricardo Campos esclarece que muitas destas crianças podem vir a crescer com transtornos psicológicos, vertentes emocionais mais sensíveis e um nível psicológico mais débil e fraco.
No entanto a maior parte dos inquiridos demonstrou que o facto de terem crianças não influencia na decisão.
ES(Por Maria Peciña e Eduardo Santiago): (Por Maria Peciña e Eduardo Santiago) En las gráficas del cuestionario español, hay un 61,4% de personas que aseguran que tener hijos no influye a la hora de divorciarse.
En cambio, Nerea Ortega, psicóloga española, asegura que tener hijos dificulta iniciar un proceso de divorcio. Además, también dice que hay una concepción errónea de mantenerse juntos por el bien de los hijos. Esto a largo plazo es una enseñanza malísima para los hijos. Por lo tanto, esto provoca que las parejas que tenían que haberse divorciado no se separen porque no podrían mantenerse de manera independiente.
Discussões no contexto de confinamento
PT (Por Bárbara Couto) : Segundo a psicóloga Cláudia Leal, dentro de casa, as respostas são mais intensas. As pessoas quando partilham as 24h dos seus dias na mesma casa acumulam uma maior tensão emocional que se associa ao cansaço e ao medo, devido ao tempo incerto que vivemos fruto da Covid-19.
Quando os casais estão fechados em casa, passam a ver apenas o lado negativo (os defeitos do outro), ou seja, vão existir mais discussões, mais ressentimento emocional, logo maior afastamento.
ES (Eduardo Santiago): Adolfo Viguera menciona que un efecto inmediato de una situación de este tipo se traduce en muchas solicitudes de divorcio, ya que muchas relaciones en las que la convivencia no funcionaba han terminado por romperse tras haber estado conviviendo durante tantas horas y días seguidos. En los momentos malos existen dos opciones: intentar no hacer daño en las discusiones y tener una actitud conciliadora, o todo lo contrario (infidelidades, insultos, etc.).
Razões das discussões
PT (Por Fábio Costa): Embora o fator predominante na amostra recolhida, do lado português, tenha que ver diretamente com a distância, a advogada Mafalda Rosa destaca o stress, a incerteza e o emprego, como as principais causas de discussão e posteriormente, separação.
Segundo a socióloga Isabel Santos a convivência por fricção (partilha do mesmo espaço por um longo período de tempo), pode ser um fator que resulte numa maior incidência de desentendimentos.
Veja aqui a explicação da Socióloga Isabel Santos
ES(Por Maria Peciña): Los factores o consecuencias por los que las personas se divorcian se han alterado mucho en el confinamiento. Algo tan simple como el reparto de tareas, que antes era mucho más llevadero, ahora al estar encerrado se hace más difícil.Otro factor importante es la economía, y curiosamente es justo lo contrario. Cuando hay un etapa de crisis, las parejas no pueden permitirse divorciarse, porque no podrían pagarse otras dos casas.
Veja aqui a explicação da Psicologa Nerea Ortega
Considerações
No presente trabalho conseguimos perceber que Portugal e Espanha têm culturas muito idênticas, mas que apesar de serem vizinhos e pertencerem ambos à zona euro, o fator económico tem um peso muito maior em Portugal quando falamos em relações conjugais.
Em todas as razões elencadas para os motivos de discussão, o fator económico não pesou uma única vez nos cidadãos espanhóis. O que acaba por fazer sentido, se olharmos para o gráfico de divórcios nos últimos anos. Isto porque, Portugal no último período de grande crise financeira, registou um pico de divórcios, já o mesmo não aconteceu em Espanha.
Espera-se que no período pós-covid, segundo os dados recolhidos e as informações reunidas junto dos profissionais e especialistas, que a tendência se volte a repetir.
É de destacar alguns factos curiosos que recolhemos junto dos vários profissionais.
Por termos realizado entrevistas semi-estruturadas foi possível colocar algumas questões não previstas, o que por sua vez resultou em respostas bastante curiosas. Ainda que estas curiosidades, não pesem na análise de cada um dos tópicos acima, acreditamos que são do interesse do leitor.
PT (Por Bárbara Couto): De acordo com a psicóloga Cláudia Leal, e os seus anos de experiência: “Não existe nenhum casal que nunca tenha pensado em separar-se”.
Além disto, a profissional confessa que “a maior parte dos seus clientes não residem próximo do seu consultório em Braga, mas sim, em outros lugares não tão próximos, como por exemplo no Porto.”
Explica-o devido ao facto de “o acompanhamento do casal em vias de separação ser um tema “tabu” para muitos casais portugueses, por isso têm a necessidade de sair das suas áreas de residência para este tipo de consultas.”
Contrariamente ao que seria de esperar, a psicóloga assume que não teve mais procura nesta fase de contexto pandémico. Justifica-o por ser psicóloga privada e a maior parte dos casais não ter posses monetárias para a consultar, mas não só.
“Os casais Portugueses ainda não valorizam como deviam as questões relacionadas com a saúde mental, e consecutivamente, os benefícios da terapia de casal”, mencionou a psicóloga.
Por fim acrescentou que “muitos dos clientes são brasileiros, eles dão mais importância às questões psicológicas, aliás, faz parte do plano de saúde deles. Enquanto que em Portugal não.” Para a psicóloga Cláudia Leal, é urgente que o acompanhamento psicológico individual, ou em grupo, faça parte do plano de saúde pública português.
“Na reforma também há muitos divórcios, pelo facto dos casais passarem todo o tempo juntos“, concluiu.
O que vai de encontro aos depoimentos obtidos pelos especialistas. Quanto mais tempo os casais partilham o mesmo espaço, maior será a probabilidade de desentendimentos e possíveis separações.
Já do lado espanhol
(Por Maria Peciña): Algunos datos interesantes que ha aportado Nerea Ortega a la investigación es que todos los cuestionarios están un poco sesgados, porque la gente quiere dar una imagen de sí misma mejor de lo que es, es decir, la deseabilidad social.
Para terminar, también nos ha informado de la situación de riesgo por la que están pasando muchas familias.Ahora mismo tenemos pacientes que son muy graves. Están conviviendo con su agresor. Con eso estamos teniendo muchos problemas porque no podemos hacer terapia online. Hay que aprovechar los ratos que el agresor no está y estas personas están muy afectadas.