O confinamento pode não ter tido impacto na prática desportiva dos jovens dos 18 até aos 24 anos
A entrada de Portugal no confinamento alterou hábitos e rotinas, e foram muitas as mudanças na prática desportiva. Por via de entrevistas e um formulário, foi possível perceber que afinal a pandemia pode não ter tido um grande impacto na vida dos jovens.
[Texto de Ana Fernandes, Mariana Oliveira, Raquel Valente e Vanessa Sousa]
De todos os entrevistados, três homens alegaram que já treinam há cerca de três/quatro anos e que a pandemia não fez com que treinassem mais.
Fábio Rocha, de 22 anos, natural da Trofa, treina por gosto e pela sua saúde mental. “A pandemia não teve impacto nenhum, comecei a treinar por livre vontade e também porque é uma necessidade mental”, afirma o jovem.

Fotografia cedida pelo entrevistado
Telmo e Pedro Azevedo, de 22 e 24 anos, reduziram a prática desportiva, devido ao tempo excessivo que passaram fechados em casa e por não terem acesso a outros desportos, como o futebol ou os ginásios.
Pedro Azevedo Telmo Azevedo
Vídeo Ana Fernandes, Mariana Oliveira, Raquel Valente e Vanessa Sousa
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a atividade física deve ser praticada regularmente, pelo menos três vezes por semana. É essencial para o bem-estar físico e mental do ser humano, de forma a acabar com o sedentarismo e os efeitos nocivos. Além disso, tem um papel preventivo na infeção por Covid-19, por via do reforço do sistema imunitário.
No entanto, as pessoas estão a alterar o seu estilo de vida, no que toca a hábitos e rotinas, provenientes da entrada de Portugal no confinamento. Para tentar perceber o que influenciou a realização de práticas desportivas e o que se manteve no dia-a-dia das pessoas durante o primeiro e o segundo confinamento, procedeu-se à execução de seis entrevistas e ao lançamento de um formulário nas redes sociais.
A amostra do formulário é de 54 pessoas, com idades compreendidas entre os 17 e os 54 anos. Das respostas obtidas, 59,3% das pessoas alegaram que praticam exercício físico, 65% já praticavam e 62,5% frequentavam infraestruturas antes de a pandemia começar. Relativamente aos dois confinamentos, 40% das pessoas afirmaram que praticaram de igual forma e 32,5% treinaram mais no primeiro confinamento. Por outras palavras, quase metade dos respondentes não sentiram o impacto de ficar em casa.
A esmagadora maioria (92,5%) dos inquiridos tem pessoas próximas que praticam desporto regularmente e que isso influenciou a sua prática desportiva, uma vez que tinham outro tipo de incentivo. As respostas variam entre amigos, familiares, cunhados e namorados. Além disso, o material desportivo foi uma requisição imprescindível para 40% dos respondentes, sendo que 32,5% já tinham em casa e os restantes não sentiram necessidade de comprar.
Segundo o jornal Público do dia 4 de maio de 2020, escrito por Samuel Silva, “O confinamento pôs mais gente a praticar atividade física”. Foi realizado um estudo com cinco universidades portuguesas para o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), onde se descobriu que “45% das pessoas que eram fisicamente inativas antes da pandemia iniciaram a prática de alguma atividade física”.
O exercício físico aumentou, principalmente através de caminhadas e corridas, e a forma como os ginásios reagiram ao preparar planos de treino em casa também influenciou, de acordo com o jornal digital Observador, também no dia 4 de maio de 2020.
No primeiro confinamento mais de metade dos portugueses, inquiridos no âmbito do estudo REACT-COVID 2020, admitiu ter praticado exercício físico como forma de “aliviar o stress” e manter-se saudável. A par disso, revelam ainda que a prática desportiva foi também uma forma de “evitar ganhar peso”, ter “mais tempo disponível” e “dormir melhor”.
A saúde mental foi colocada em causa com a introdução do confinamento. Para fazer frente a este flagelo, as pessoas optaram por praticar exercício físico ao ar livre. A 21 de fevereiro de 2021, a SIC Notícias lançou uma reportagem redigida pela jornalista Bárbara Lima, que fala sobre a influência que o estado do tempo teve na vida das pessoas, “O bom tempo motivou a prática de atividades na rua”. Correr e caminhar à beira-mar tornou-se rotina para muitos dos portugueses, “sem estas caminhadas era muito mais complicado o confinamento”, afirma uma entrevistada.
A 6 de abril de 2021, Marisa Silva, jornalista do Jornal de Notícias, publica uma notícia sobre questões psicológicas. “Exercício físico ajudou portugueses a “aliviar stress” no primeiro confinamento”, é o título da notícia.
Graças Freitas, Diretora-Geral da Saúde, assegura que o confinamento veio “exacerbar iniquidades sociais”, ou seja, a idade, o género e os rendimentos socioeconómicos podem estar associados a pessoas que praticam mais ou menos atividades físicas.

Veríssimo Silva, de 21 anos e natural do Porto, conta ao #infomedia que já pratica desporto desde criança e que sempre foi uma pessoa ativa. Atualmente está inscrito num ginásio, faz treinos de ténis e com o confinamento começou a correr, “os meus amigos convidaram-me para ir correr derivado a estar tudo fechado, então, começámos todos juntos”.
Veríssimo Silva
Fotografia cedida pelo entrevistado
Realça que o maior motivo para ter começado a dedicar mais tempo ao desporto passou pela vertente psicológica e física, “foi essencial para a minha saúde mental e o meu bem-estar físico para descarregar o stress e para me sentir bem comigo próprio”.

Sara Silva, de 21 anos, natural de Castelo de Paiva,já se tinha inscrito num ginásio alguns meses antes do confinamento, mas a sua prática era irregular. Quando ocorreu o primeiro confinamento saiu do ginásio, porque não iria usufruir deste. No entanto, praticava através de vídeos na internet, porque surgiu a vontade de criar uma rotina, gostava de “saber que àquela hora tinha algo para fazer”. Foi também uma grande ajuda para a jovem a nível psicológico, que como muitos outros, teve aulas online, “naquele momento não pensava, concentrava-me só naquilo e ajudava-me muito a descarregar energias, que acabava por não gastar durante todo o dia, uma vez que não saía de casa”.
Sara Silva
Fotografia cedida pela entrevistada
Vídeo Ana Fernandes, Mariana Oliveira, Raquel Valente e Vanessa Sousa
O motivo de ter começado não se relacionava com a aparência, no entanto os resultados foram aparecendo e isso motivou-a, “quando dei por mim os resultados começaram a aparecer, comecei a sentir o meu corpo melhor e acabei por emagrecer”.
Realça ainda a importância que os professores de desporto têm para os atletas, “se fosse eu a criar a rotina do treino, «agora faço abdominais, agora faço flexões» acabava por desistir. Tendo alguém a dizer «só mais este exercício», «só mais um minuto», parecendo que não, acaba por ajudar muito”.
Após os confinamentos, inscreveu-se novamente no mesmo ginásio, onde treina até hoje, de forma mais regular.
Pedro Correia é personal trainer no ginásio Kolossus em Ovar há seis anos. Conta que durante os dois confinamentos optou, em conjunto com o ginásio, dar aulas online. “Apesar de as pessoas perderem alguns hábitos de treino, houve alguma adesão e os atletas tentaram manter os horários em que frequentavam as aulas”, afirma Pedro, acrescentando que durante esse período, deu também aulas ao domicílio, com maior frequência no segundo confinamento. “Durante o início do primeiro confinamento, Ovar esteve numa cerca sanitária e como o meu local de residência é fora da cidade, era impossível dar aulas ao domicílio”, revela o professor.

Fotografia cedida pelo entrevistado
No segundo confinamento, houve mais pessoas a desistirem de frequentar o ginásio, pois “tiveram medo que o processo se voltasse a repetir, em relação ao primeiro confinamento”, ou seja, que o ginásio voltasse a fechar e depois os hábitos adquiridos se perdessem.
Após a reabertura do ginásio durante o primeiro confinamento, as pessoas “vieram com mais afluência”, não falharam tanto nos treinos. Contudo, Pedro refere que depois dos confinamentos, o ginásio teve um maior fluxo de pessoas a inscreverem-se pela primeira vez.
Pedro Correia, divulga ainda que as pessoas “viciadas” em treinar, nomeadamente no ginásio, nunca deixaram de o fazer, “arranjavam sempre outras alternativas”. A par destas, encontram-se as pessoas que acreditam que o recomeço de um novo ano traz energias novas, “com início do ano 2021, houve pessoas que começaram a treinar e até então, não pararam”, refere. Por fim, existem ainda as pessoas que quiseram ingressar no ginásio, na tentativa de “perder aqueles quilos a mais que ganharam, tanto no primeiro como no segundo confinamento”, expressa o personal trainer.
A nível pessoal, enquanto praticante de desporto, Pedro Correia, admite que durante o primeiro confinamento sentiu alguma dificuldade de adaptação.
Não tinha material em casa, o local onde trabalho é fora do meu concelho de residência e como Ovar estava em cerca sanitária, não podia entrar na cidade”, exprime o jovem.
Todavia, no segundo confinamento, Pedro já não sentiu essa dificuldade, pois treinava no ginásio onde trabalha. Enquanto professor desportivo, conta que teve de se adaptar, porque não tinha algumas bases e teve de adquiri-las, de modo a que pudesse dar aulas pertinentes.
“O confinamento foi uma aprendizagem”, expressa Pedro. O jovem atribui à experiência um balanço positivo, “consegui ganhar aptidões que não tinha, como dar aulas online. Agora, as pessoas até preferem aulas em casa e por isso, consegui desenvolver mais o meu lado de personal trainer”.