O medo e as saudades a mais de 1400 km de distância da terra natal
- Debora Sousa
- 30/06/2020
- Internacional oanoemqueomundoparou
[Testemunho recolhido por Débora de Sousa]
Joana Sousa foi uma das muitas pessoas que teve de se reinventar em casa por causa de o mundo ter parado subserviente à pandemia. Tem 32 anos, é natural de Vila Nova de Gaia, mas vive há dez anos em Montpellier, no sul de França.
Marco, o marido, emigrou primeiro devido à falta de emprego em Portugal. As saudades falaram mais alto e Joana embarcou atrás do amor e também de melhores condições de vida. Foi em França, após cinco anos de emigrados, que foram pais “o melhor que nos podia acontecer”.
Desde o início da pandemia, manteve-se em casa com os seus dois filhos, uma menina de cinco anos e um menino de 18 meses. É governanta num hotel, mas quando tudo começou estava em casa em licença de maternidade. Por ter um bebé de 18 meses afirma que nem sempre foi fácil “proteger um bebé e uma criança nas saídas necessárias”. As crianças são espontâneas e difíceis de controlar. “A minha filha toca em tudo e não percebe quando lhe digo que não o pode fazer.”
Joana cumpre as recomendações que são sugeridas na televisão francesa pelas autoridades de saúde, mas sabe que todo o cuidado é pouco. “Nem os médicos sabem com o que estão a lidar.” Suspira pela vacina, pois teme o futuro dos filhos que estão em casa, privados de ter uma vida social ativa e até de irem à escola aprender.
Apesar de não estar muito atenta às ações do governo português acredita que o mundo inteiro vai ser afetado pela pandemia da Covid-19 e os efeitos serão devastadores para o funcionamento do mundo e para a sobrevivência da maioria das famílias.
Joana tinha viagem marcada a Portugal na Páscoa mas a pandemia do novo coronavírus cancelou-lhe os planos. Desde o natal que não vê a sua família “a minha filha não percebe que não pode ir ver os avós, os bisavós”.
A mais de 1400 km da sua cidade desabafa que “as saudades já sufocam”. Tem em Portugal toda a família, tal como a do marido, mas vivem a pandemia num outro país, agora um pouco mais seu. Estar longe dos familiares é, sem dúvida, o maior sacrifício para Joana. E nas condições excecionais que 2020 nos trouxe continua a ser necessária essa distância, com a agravante de um regresso incerto.