Portugal perde 10 mil apicultores em 20 anos 

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Alterações climáticas e a invasão da vespa asiática são responsáveis pela quebra de produção de mel. Futuro da apilcultura em risco.

“A seca e as ondas de calor são o que mais impacta na apicultura, secam a pastagem e transformam o ciclo anual das nossas abelhas, que estava adaptado às estações do ano, numa coisa diferente”, explica João Casaca, da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP). As alterações climáticas prejudicam as florações silvestres, essenciais para a alimentação das abelhas, precisa o apicultor. E com menos néctar disponível, a produção de mel diminui e o ciclo de vida das abelhas é afetado.

Para que a profissão sobreviva, os apicultores têm de suportar novos custos com a compra de alimentos e medicamentos, uma vez que as abelhas deixaram de conseguir sustentar-se sozinhas. Mesmo com ajuda, as abelhas acabam por não sobreviver. Nos últimos quatro anos houve uma diminuição de 131 448 colmeias em Portugal. Magda Tavares, da Associação de Apicultores do Norte de Portugal, refere que há alguns anos, os apicultores quase nunca precisavam de intervir no trabalho natural das abelhas.

A vespa asiática entrou em França há 20 anos e desde essa altura, espalhou-se por Espanha e chegou a Portugal há 13 anos. Agostinho Abreu, apicultor em Santo Tirso, afirma: “Estão cada vez mais a reproduzir-se, cada vez mais a atacar as abelhas e isso faz com que atualmente seja muito complicado ter colmeias e viver da produção de mel próprio”.  A vespa asiática alimenta-se de insetos, nomeadamente de abelhas. Quando encontra uma colmeia, permanece nessa zona, pois sabe que ali existem recursos alimentares infinitos. No outono, as abelhas não saem da colmeia, porque se saírem deparam-se com vespas que se alimentarão delas. Este comportamento faz com que as abelhas não consigam recolher alimento, não consigam sair para defecar, provocando doenças, subnutrição e muitas vezes a morte.

Produz-se menos, vende-se pior e mais barato. Desde 2020, os custos aumentaram substancialmente, impulsionados por crises inflacionárias no preço de combustíveis, medicamentos e alimentação para as abelhas. No entanto, o preço de venda do mel não acompanhou esta tendência. Portugal importou, até julho de 2024, cerca de 10 mil toneladas de mel, principalmente da China, onde o mel é vendido a 1,28€ por quilo. Os apicultores portugueses precisariam de vender o mel a um preço mínimo de 4,50€ por quilo, “para conseguirem pagar as contas” afirma João Casaca. Há 20 anos Portugal possuía mais de 20 mil apicultores, este ano o número é reduzido para metade. 

“Se nada for alterado, muitos apicultores deixarão a atividade nos próximos três anos”, alerta João Casaca.

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