População de Barcelos descontente com nova ciclovia

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População de Barcelos descontente com nova ciclovia

Ciclistas preocupados com perigosidade do traçado da ciclovia em Barcelos por conta do cruzamento com estradas, rotundas e passeios. Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta alertou para os problemas do traçado, mas não obteve resposta da câmara.

Os nove quilómetros de extensão da nova ciclovia urbana da Avenida de S. José desagradaram aos ciclistas locais pela falta de continuidade em algumas partes do percurso e pelo risco que a estrutura da nova via representa. 

“É um projeto de ciclovias muito antiquado. Nota-se que fizeram o projeto só mesmo para mostrar que estão preocupados com o meio ambiente, mas na verdade não parece que andem de bicicleta. São malfeitas, estreitas, inseguras e não levam a lugar nenhum”, critica Hélder Gomes, que trabalha em restauração na cidade de Barcelos e utiliza aquela infraestrutura.

Alexandre Lisboa, professor de educação física em Barcelinhos, disse estar à espera de esclarecimento por parte do município. “A ciclovia está no meio da via e vai coincidir com os carros. Este tipo de trajeto não parece a melhor opção”, afirmou.

O projeto final detém troços partilhados unidireccionais, desenhados ao nível do pavimento da estrada. Foi construído por circuitos onde coexistem estrada, passeio e as ciclovias ao nível da cota do passeio. 

Os incidentes entre pessoas em bicicleta e carros nos cruzamentos são mais comuns quando quem pedala utiliza o passeio. De acordo com a Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi), este tipo de construção de ciclovias “é extremamente perigoso”. 

Ciclista a circular fora da ciclovia

Fernanda Valladares, de 22 anos, estudante no Instituto Politécnico do Cávado e Ave (IPCA), afirma que geralmente não faz uso da ciclovia. “É difícil o acesso à ciclovia. Por ser no meio da estrada, não sei se os carros vão ter alguma implicância com os ciclistas. Tenho medo de bater em algum carro ou que aconteça algum acidente”, disse a estudante.

Parte da ciclovia é projetada no anel externo da rotunda, o que faz com que as bicicletas se encontrem em situação de conflito num ponto cego para os carros. “Sentimo-nos na obrigação de alertar que este tipo de solução, sem alterar o desenho da rotunda, é extremamente perigosa para quem pedala”, conta MUBi. 

No ano de 2022, a associação escreveu à câmara de Barcelos para alertar sobre a sua perigosidade. Além de permanecerem com o projeto inicial, não responderam à associação: “Realçamos que a MUBi estava disponível para colaborar no que fosse necessário. Nunca recebemos uma resposta”.

Corte de 1,2 milhões de euros no projeto da ciclovia 

A infraestrutura foi executada pela empresa ABB, no valor inicial de 4,6 milhões, porém,  levou um corte de 1,2 milhões de euros. Com isso, a extensão que deveria ter 14,3 quilómetros passou a apenas nove. O corte do projeto fez com que parte da faixa exclusiva para bicicletas não cobrisse duas escolas secundárias, ligação com à câmara municipal e ao castelo da cidade, e duas principais avenidas de Barcelos.

A diminuição da ciclovia acabou por deixá-la desligada do resto da cidade. “O percurso não está conectado, ou seja, começa numa ciclovia, mas depois acaba por sair dela para entrar em outra novamente. Simplesmente não leva a nenhum lado na maior parte das vezes”, conta Hélder Gomes, que ao ir para o trabalho não consegue usar a ciclovia em grande parte do percurso.

O novo projeto da cidade “é um caminho que visa a sustentabilidade”, porém apenas uma pequena parte dos barcelenses utilizam a bicicleta como principal meio de locomoção. 

“Só 0,5% da população usa a bicicleta como meio de transporte. O nosso grande desafio é começar a aumentar duma forma realmente significativa este número, ao ponto de as pessoas poderem usar o transporte público e as bicicletas como um meio principal de mobilidade”, disse o presidente da câmara de Barcelos, Mário Constantino Lopes.

O autarca conta que há países mais desenvolvidos em relação ao uso das bicicletas como meio de locomoção: “Sabemos que nos países europeus, sobretudo, na Holanda e em França, já há uma tradição que foi sendo criada, em relação ao uso das bicicletas, e que hoje em dia é o meio de transporte mais utilizado. Nós vamos ter um caminho longo para chegar lá, mas temos de começar por um lado, e começamos por isso”.

A MUBi observou que há mais pessoas utilizando bicicletas no país, porém não existem condições convidativas e seguras para que o façam.

Presidente da câmara de Barcelos

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