Seminário: Ativismo em rede e plataformas colaborativas
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- 13/10/2021
- Atualidade Internacional Portugal
[Texto de Ana Jorge, Guilherme Caroço, Rita Almeida e Vanessa Rodrigues]
“Ativismo em Rede e Plataformas Colaborativas” é o nome do seminário internacional que se vai realizar amanhã e sexta-feira, dias 14 e 15 de Outubro, no Salão Nobre da Universidade Lusófona do Porto (ULP), entre as 10h e as 17h, organizado no âmbito do Doutoramento em Comunicação e Ativismos da instituição.
O evento é gratuito, mas sujeito à lotação da sala, e terá um formato híbrido (online e presencial), reunindo investigadores das universidades de São Paulo, Londres, Minho e Lusófona — com especial incidência nas investigações do CICANT – Centro de Investigação em Comunicações Aplicadas e Novas Tecnologias e que se têm vindo a debruçar sobre essas linhas de pesquisa.
O objetivo é refletir sobre “o ativismo em rede ao nível de ecossistemas, casos, modalidades, ou lógicas de interação, comunicação, mobilização, participação e ação coletiva (cívica e política)”, proporcionando também um espaço de diálogo entre a ciência e a sociedade, através de vários momentos de debate. Aliás, depois de cada comunicação irá realizar-se um momento de perguntas e respostas, numa conversa moderada pelos professores universitários da ULP Manuel Bogalheiro, Rui Pereira e Maria José Brites.
O pretexto desta reflexão internacional são as redes sociais digitais que, ao introduzirem “novas condições comunicacionais, com novas práticas informativas, comunicativas, de partilha e mobilização, e novas lógicas ativistas e colaborativas”, ampliaram o ativismo em rede, assente “em novas modalidades de mobilização, protesto e participação (individual e coletiva), regidas pela interatividade e instantaneidade e pela disseminação e atualização contínua de mensagens”.
Comunicação como resistência, net-ativismos, movimentos sociais e ativismo feminista transnacional
No primeiro dia, a sessão decorrerá das 10h às 17h. O professor universitário Massimo di-Felice (Atopos, Universidade São Paulo) abrirá os trabalhos com a comunicação “Data ecology: o protagonismo dos não humanos e as características da cidadania do terceiro milênio”. O cientista social tem-se debruçado, nos últimos anos, sobre o estudo das redes complexas em três dimensões: alterações da condição habitativa a partir da difusão de interações em redes informativas com o meio ambiente, net-ativismos e o estudo do significado das alterações da ação nas redes digitais e, por fim, o estudo sobre o comum digital e a superação da ideia humano-técnica e industrial da comunicação.
A comunicação da investigadora Ana Cristina Suzina do Institute for Media and Creative Industries (Loughborough University London) incidirá sobre as formas de “Comunicar para resistir: o ativismo midiático nas redes em processos de mudança social”. A comunicação vai discutir “a ideia de resistência como possível princípio normativo do ativismo midiático nas redes”. Partindo do conceito de dissonância, “entendido como ponto de partida para a mudança social, os sentidos de resistir serão analisados a partir de aspectos como a existência e a confrontação de desigualdades e políticas de silenciamento, e o caráter de dinâmicas de reflexividade na apropriação de plataformas e processos de comunicação no contexto de mobilizações sociais”, resume a investigadora.
Por sua vez, Rui Pereira, Isabel Babo e Luís Miguel Loureiro refletirão sobre o Projeto Cicant – “Ativismo em Rede e Plataformas Colaborativas”. O caso dos ativismos e plataformas que emergiram na sequência dos incêndios de 2017 (Portugal): Uma proposta analítica de ativismo em rede”. Os investigadores debruçar-se-ão, respetivamente, sobre “Uma proposta analítica de ativismo em rede”; “Da visibilização do Movimento Associativo Apoio Vítimas Incêndio Midões [MAAVIM] ao ativismo em rede”; e “De ‘vítimas dos incêndio’ a ‘vítimas do esquecimento’: o trabalho das identificações na elaboração da identidade do MAAVIM”. Trata-se de um estudo de caso em curso “sobre o uso das tecnologias digitais por netativistas na sequência dos grandes incêndios que atingiram a região centro de Portugal, a 17 de junho e a 15 de outubro de 2017, com consequências em termos das modalidades de associação, participação e denúncia, e das formas de constituir e defender causas coletivas”, lê-se na introdução do livro de resumos das comunicações.
À tarde, José Bragança de Miranda (UNL, ULHT/ULP) refletirá sobre o “Universalismo e ativismos em rede”, procurando pensar a lógica do comum na época das redes, de onde surge “uma nova fisicalidade política, no sentido em que expande materialmente o espaço político”.
Por seu lado, Célia Taborda Silva (ULP, CICANT) examina o “Associativismo e movimentos sociais”. Um olhar sobre os movimentos associativos de 2017, em Portugal”, com ênfase nos movimentos de apoio às vítimas dos incêndios, “atendendo à emergência social e à inércia institucional”.
Já Carla Cerqueira incidirá o pensamento sobre “Ativismo feminista transnacional: reflexões em torno da dororidade das lutas”, trazendo subsídios sobre “as atuais dinâmicas e reconhecimentos de ativismos digitais, como é o caso da Marcha do 8M ou do #Metoo, e dos seus sujeitos protagonistas na esfera pública, com ênfase na urgência da interseccionalidade (Crenshaw, 1989), a necessidade de incorporar a dororidade (Piedade, 2017).”
Hashtags feministas, lógica das redes e net-ativismos, jornalismo ativista e cinema
No segundo dia, a sessão será das 10h às 13h. Num primeiro momento, a investigadora Sofia Caldeira (ULP/CICANT) debaterá sobre “Feminismos Instagrammáveis: Uma análise exploratória do panorama de hashtags feministas no Instagram Português e das suas convenções imagéticas”, a partir de um dataset temático baseado em quatro hashtags: #feminismoportugal, #igualdadedegénero, #naopartilhes, e #portugalmaisigual. “Esta comunicação explora a diversidade de temáticas feministas diversas contidas no dataset; como conteúdo feminista está entrelaçado com estéticas Instagramáveis (Caldeira, De Ridder & Van Bauwel, 2020); e como a atenção é estrategicamente mobilizada para ganhar visibilidade e engajamento, seguindo a logica de popularidade dominante nas redes sociais (van Dijck & Poell 2013)”, lê-se no livro de resumos das comunicações.
Já o investigador João Marques Carrilho (ULP/CICANT) incidirá sobre “A lógica das redes”, onde “as pessoas são principalmente dados a serem manipulados por algoritmos especializados de inteligência artificial, ao serviço do capitalismo digital e de uma miríade de tendências políticas cada vez mais autoritárias. A era da informação é, portanto, uma era de infoguerras, infobombas, infodemias e projetos de vigilância massiva.”
Por sua vez, “O testemunho na primeira pessoa no cinema e redes sociais” é o ponto de partida de Patrícia Brás (ULP/CICANT), a qual aborda a forma como o cinema feminista tem problematizado o uso do testemunho através da sua reconstituição. “Pretendo discutir se nas redes sociais, o uso do testemunho na primeira pessoa é capaz de promover um palco político compartilhado e recíproco, ou se a reciprocidade é prejudicada pela natureza imediata destas tecnologias? E poderá o cinema assim oferecer um tipo de experiência temporal radicalmente diferente do imediatismo das redes sociais, assim como oferecer uma saída radical da linguagem da vitimização através da reconstituição do testemunho?”, enuncia a investigadora.
Cássia Ayres traz para o centro da discussão “Participação política, médias digitais e mudanças sociais: a comunicação na perspectiva do cidadão jovem”, tema da sua tese de doutoramento defendida este ano no âmbito do Doutoramento em Estudos em Comunicação para o Desenvolvimento, matriz do mais recente 3ª ciclo de estudos da ULP renomeado para Comunicação e Ativismos. A investigadora analisa “as dinâmicas participativas de jovens brasileiros, utilizadores do programa U-Report, como um caso de estudo exploratório, com o objetivo de pensar sobre a Comunicação para o Desenvolvimento e Mudança Social (CpDMS) na perspectiva do cidadão jovem, no Brasil, e em contextos similares.”
Por seu lado, a investigadora e professora universitária na ULP Vanessa Ribeiro-Rodrigues incidirá sobre as práticas jornalísticas que abordam os temas de desenvolvimento humano, com ênfase para as narrativas cinematográficas, como linguagem para “contar melhor as histórias”, tornando as fontes-intervenientes em sujeitos de desenvolvimento humano” e cujos testemunhos guiam as narrativas. “Histórias que revelam silêncios”: O jornalismo de/para/sobre desenvolvimento humano e as narrativas cinematográficas audiovisuais” é o nome desta comunicação a partir do estudo de caso da publicação digital independente portuguesa Divergente, que enfatiza as primeiras vozes, “para devolver a narrativa e o poder a quem experiencia as ausências de participação na esfera pública discursiva dominante”.
Lina Moscoso do Centro de Estudos em Comunicação da Universidade do Minho, debruçar-se-á sobre “Ativismo das redes na pandemia: Jornalistas Livres contra o governo brasileiro”, analisando “um novo paradigma de jornalismo que utiliza as redes sociais como modelo de produção”, estabelecendo-se enquanto comunicação ativista e independente. A investigadora parte do estudo de caso Jornalistas Livres (JL) no Facebook “contra a gestão da pandemia de Covid pelo presidente do Brasil Jair Bolsonaro e a consequente formação de redes ativistas que vêm promovendo atos “#ForaBolsonaro” e contribuíram com a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar denúncias de corrupção e de outras irregularidades.”
Para encerrar os trabalhos, o investigador Vladimir Ramalho (ULP/CICANT) analisa “Os incêndios ocorridos em Portugal em 2017. Análise pela perspectiva do net-ativismo”, debruçando-se sobre “a mobilização na internet usando as redes sociais”, procurando identificar os fluxos e a caracterização dos agentes catalisadores emergentes através das informações difundidas sobre o tema dos incêndios de 2017.”
Mais informações:
Para assistir ao seminário presencialmente contactar Ana Almas, através do e-mail ana.almas@ulp.pt. (Sujeito à lotação existente).
Local do seminário: Salão Nobre da Universidade Lusófona do Porto
Endereço: R. de Augusto Rosa 24, 4000-098 Porto.
Para assistir ao seminário através de videoconferência, aceder AQUI, com o ID: 812 8262 9527.