Tasquinha Rebelo: encontro da tradição, amor e diversidade

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Tasquinha Rebelo: encontro da tradição, amor e diversidade

Na rua de Miraflor, no coração de Campanhã, no Porto, entre ruas estreitas e cheias de história, há um espaço onde o amor pela tradição e a criatividade culinária ganham forma: a Tasquinha Rebelo. Este restaurante, liderado por Maria Fátima Rebelo, é mais do que um negócio, é um reflexo da paixão pela vida, pela gastronomia e pelo contacto humano.
[Beatriz Miranda e Inês Marques: texto e fotos] 

“Eu tinha uma vida completamente diferente”

Maria Fátima Rebelo, Tasquinha Rebelo
Maria Fátima Rebelo fotografa por: Ana Beatriz Miranda

Recordando o tempo em que era gestora de saúde, o sonho de abrir uma tasquinha parecia uma ideia improvável, especialmente para quem tinha um “estatuto elevado” e enfrentava dúvidas, até mesmo dos pacientes. Mas para Fátima, a decisão foi menos sobre seguir padrões e mais sobre um desejo profundo de liberdade e significado. “Eu sou muito arrojada, e penso no que desafia, por isso fui contra tudo.”, conta a própria.

O Espaço e a Essência

Ao entrar na Tasquinha Rebelo, sente-se uma atmosfera diferente. As paredes estão repletas de decorações únicas, muitas trazidas das viagens de Fátima, outras tantas oferecidas por clientes que por lá passam. Cada objeto conta uma história. A transformação do espaço foi feita toda pelas mãos de Fátima, com cuidado e atenção ao detalhe. “Fui a feiras, trouxe coisas das minhas viagens e, claro, muita gente me oferece peças especiais. Tudo aqui tem um significado.”, diz.

Essa essência também se reflete no cardápio, que mistura pratos tradicionais portugueses com criações originais e influências internacionais. Pratos como a “Pita Ardida” ou os “Ovos Rotos” ganham destaque pela criatividade e sabor. “As vezes vou jantar fora de Portugal, ou Grécia e vejo um prato que até gosto e digo ‘Oh isto é bom para a minha tasca, vou inventar’”. Fátima assegura que está sempre a inventar, experimenta pratos de outros países e acaba por lhes dar um toque pessoal.

A Tasquinha em palavras: Amor, acolhedora, original
Quando questionadas sobre como resumiriam a Tasquinha Rebelo numa palavra, Fátima não hesita: “Amor.” Esse mesmo sentimento que a levou a inaugurar o restaurante no Dia da Liberdade, 1 de dezembro, celebrando não apenas a história do país, mas a sua própria jornada de transformação.
Linda rapidamente responde “acolhedora”, garante que não sentiu um choque cultural, que gosta muito da Tasquinha. Já Elisabete diz-nos que a Tasquinha é “sem dúvida original”.
A Tasquinha Rebelo é um espaço singular onde histórias de vida, tradição e criatividade se encontram. Num mundo em constante transformação, continua a ser um porto seguro para quem procura uma experiência genuína, recheada de humanidade e sabor.

Uma tasca com alma

O restaurante não é apenas um lugar para comer, é um espaço de partilha e comunidade. Para Fátima, o mais importante é criar um ambiente onde todos se sintam em casa. “Aqui não importa como as pessoas estão vestidas ou quanto dinheiro têm. Se alguém não puder pagar, dou comida na mesma.”

Essa filosofia reflete-se nas relações que constrói com os clientes e com os funcionários. A relação entre a equipa é descrita como “amigável e familiar” por Elisabete Martins, a cozinheira da Tasquinha.

“Damo-nos todos muito bem. A dona Fátima tem ideias inovadoras e valoriza cada membro da equipa,” destaca.

Elisabete Martins

Um exemplo marcante é a história de Linda dos Santos, uma jovem de Cabo Verde que Fátima acolheu depois de uma viagem de férias. “Toda a gente merece uma oportunidade,” diz Fátima, que também se envolve em voluntariado e ajuda aos sem-abrigo. Linda contou-nos que está “aqui há um mês a trabalhar” porque conheceu a dona daqui da Tasquinha em Cabo Verde. “Gostou de mim, eu disse que estava a precisar de emprego e de um lugar para estar. Então disponibilizou a sua casa, arranjou-me emprego e estou aqui. Eu acho que é um anjo que caiu do céu.” Apesar de estar há apenas um mês, já reconhece o dinamismo do espaço e aprecia pratos como os “Ovos Rotos” e a “Pita Ardida”. Linda acrescenta: “As pessoas aqui são muito simpáticas, e o trabalho, embora cansativo às vezes, passa rápido porque o ambiente é bom.”

Cultura e inovação

A Tasquinha Rebelo destaca-se entre outros restaurantes pela sua autenticidade. Fátima explica que, ao contrário de outros estabelecimentos, a prioridade nunca foi enriquecer. “Aqui o mais importante é o amor. Queremos que as pessoas se sintam felizes, bem consigo mesmas e com a vida.”

Essa autenticidade reflete-se também no conceito do cardápio, que combina tradição e inovação. Elisabete descreve que os pratos mais populares, como moelas, rojões e tripas, têm um formato ideal para partilhar.

“Aqui o nosso conceito é partilhar. Vocês podem pedir vários pratos e todos provam um pouco de tudo”

Elisabete Martins

Esse amor foi também o que levou a tasquinha a participar em concursos gastronómicos, onde já conquistou prémios. “Ganhámos o terceiro lugar, que foi muito bom. Este ano entramos novamente e o nosso prato é o ‘Pito aos saltos’, e vamos ganhar o primeiro.”, conta com um sorriso confiante.

 Reflexões sobre a imigração

Num Porto cada vez mais multicultural, as opiniões sobre imigração são diversas. Elisabete observa que, apesar da presença de turistas e imigrantes ser vantajosa para os negócios, também trouxe desafios na área da habitação. “Os preços estão muito altos, nós portugueses temos dificuldade em arrendar ou comprar casas. Para os negócios é ótimo, mas precisamos de um equilíbrio,” reflete.

Fátima partilha uma perspectiva pessoal: “Prefiro trabalhar com portugueses porque eles criam uma ligação emocional diferente. Mas isso não me impede de acolher e ajudar quem precisa, independentemente de onde venham.” Linda, como imigrante, reforça a importância de espaços como a Tasquinha para criar conexões: “Os clientes tiram fotos, partilham a experiência, e mesmo quem não come acaba por trazer amigos. É um lugar especial.”