Trabalhadores-Estudantes reagem positivamente à pandemia
Trabalhadores-Estudantes Imigrantes Brasileiros
Nos últimos anos o fluxo imigratório do Brasil para Portugal aumentou, segundo especialistas, estamos perante um Terceira Vaga de Imigração que teve início em 2009, ano em que o número de imigrantes de origem brasileira em Portugal aumentou de 31,546 para 116,220. Em de 2015 houve um decréscimo, mas, mesmo assim, quando comparado com alguns Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), representados no gráfico, a diferença mantém-se evidente. No ano de 2019 voltou a verificar-se um aumento da comunidade brasileira em Portugal, tendo crescido 48% quando comparado com o ano anterior, 2018. Mais recentemente, em 2020, segundo dados divulgados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) o número de brasileiros em Portugal aumentou para cerca de 151 mil.
Principais nacionalidades dos imigrantes: 2000 – 2015.
Fonte: SEF (nacionalidade estrangeira); Censos e Eurostat (naturalidade estrangeira).
Portugal tornou-se um dos países prediletos dos brasileiros para imigrar, para além da facilidade do idioma, encontram oportunidades profissionais, uma boa qualidade de vida e segurança. Também a quantidade de estudantes brasileiros aumentou e, cada vez mais, Portugal é o país eleito quando chega a hora de decidir onde prosseguir os estudos no Ensino Superior. A Universidade Lusófona do Porto, por exemplo, possui no seu website a Página do Estudante Brasileiro onde esclarecerem questões específicas relacionadas somente com as candidaturas de alunos provenientes do Brasil.
Ana Laura Toledo, natural do Rio de Janeiro, tem 22 anos e é estudante de Ciências da Comunicação na Universidade Lusófona do Porto. Para além de ser aluna, trabalha também numa empresa do Brasil. Como tal, assume que, mesmo com a pandemia, continuou “a trabalhar normalmente”, pois, desde que está em Portugal, há três anos, que está em regime de “home office“. Apesar de, antes da pandemia, a prática do trabalho à distância não ser muito comum, Ana Laura conta que “já trabalhava nessa empresa há muito tempo” e, então, decidiu continuar, “mesmo estando longe”. Porém, em relação à universidade, a sua opinião é diferente, a pandemia não a afetou a nível a nível profissional, mas assume que “queria a experiência de estar na faculdade, fazer o último semestre, e não estava tendo mais essa oportunidade, justamente por conta do vírus”.
Quando a COVID-19 se começou a espalhar pelo mundo a estudante brasileira foi apanhada de surpresa, “estava de Erasmus, ia ficar 6 meses em Madrid”, mas logo voltou para Portugal porque os seus irmãos vivem cá. Em conjunto decidiram voltar para o Brasil, para junto dos seus pais, e viajaram em março de 2020. Foi no mês de agosto, desse mesmo ano, que decidiram “voltar para Portugal, porque iam começar as aulas e ia ser presencial”, porém, não ficaram durante muito tempo, sendo que “a segunda vaga foi logo em outubro” e a estudante ficou com bastante receio, uma vez faz parte de um grupo de risco. Conta que fez “exames médicos e o doutor, falou que deveria evitar ir para a faculdade e estar em transportes públicos”, cedeu-lhe “um atestado que comprovava que eu teria de ficar em regime on-line”. Foi nessa altura que tomou a decisão de voltar novamente para o Brasil. Regressou a Portugal apenas em maio de 2021, quando as fronteiras reabriram, mas, garante que, já se sente “muito mais segura em estar cá”.
No seu caso em específico, a pandemia não veio afetar o seu estatuto de trabalhadora-estudante. Apesar das viagens que se viu forçada a fazer entre Brasil e Portugal, como sempre executou o seu trabalho a partir de casa, não houve nenhum entrave à sua permanência na empresa.
Gabriel Castellan, por sua vez, é também um trabalhador-estudante brasileiro em Portugal, mas, ao contrário de Ana Laura, não regressou ao país de origem durante os confinamentos, manteve-se em Portugal e, inclusive, a trabalhar. O jovem mudou-se juntamente com os pais, consideraram que “era melhor fazer faculdade em Portugal porque no Brasil não tem muito futuro”, declara. Foi no Porto que se estabeleceu e começou a frequentar a Universidade Lusófona, no curso de Estudos Europeus, Estudos Lusófonos e Relações Internacionais.
Desde que veio para Portugal já trabalhou em vários locais, recentemente, há cerca de sete meses, arranjou emprego no setor da restauração, tornou-se distribuidor de pizzas na famosa cadeia de restaurantes americanos Domino’s. Apesar de todas as limitações que o contexto pandémico trouxe a este setor, Gabriel esclareceu que, profissionalmente, nunca sentiu que tivesse sido afetado de forma negativa, nem pelos confinamentos, nem pela pandemia. Reforça que “o negócio não parou”, aliás, até continuou a trabalhar cada vez mais porque “as pessoas estavam confinadas, por questões de segurança, e então recorriam cada vez mais aos serviços de entrega de comida”, de uma forma geral, existia “mais movimento de pedidos”. Desta forma, a pandemia não colocou em causa o seu posto de trabalho, muito pelo contrário, Gabriel conta que sentiu que ainda fez com que se sentisse mais seguro, o fluxo de pedidos era tamanho que a empresa não se podia desfazer de entregadores, não naquela altura.