Bombeiros em Portugal: um trabalho para além da farda

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Bombeiros em Portugal: um trabalho para além da farda

Como se chega a bombeiro?

Rita, José, Joana, Fernando e Nuno são bombeiros em corporações diferentes. Treinados para combater as chamas até ao último minuto, mas o trabalho não se resume a apagar fogos. São socorristas de emergência médica e pré-hospitalar, resgatam pessoas de acidentes de trânsito, desmoronamentos de edifícios, desastres naturais, salvamento em grande ângulo, arrombam portas quando alguém se esquece da chave de casa e até salvam animais quando estão presos em cima das árvores.

“Estão aptos para quase tudo”, sublinha Bruno Oliveira, comandante em Valongo. Os operacionais têm toda a formação de “incêndios urbanos e rurais, de desencarceramento e de pré-hospitalar.” Dentro dela existem especialidades, desde grande ângulo, teleférico, mergulho, águas bravas e cheias, em que são áreas que “é preciso ter gosto.” Nem toda a gente se “sente à vontade de estar a 200 metros de altura suspenso por uma corda, nem de baixo de água”, exemplifica.

Ser bombeiro, seja de forma profissional ou voluntária, implica uma integração no corpo de bombeiros, numa unidade operacional tecnicamente organizada, preparadas e equipadas para o cabal exercício das missões que lhe são atribuídas, inserindo-se dentro de uma entidade detentora, que pode ser pública ou privada.

Corpos de Bombeiros em Portugal | Infográfico de Mariana Venâncio

“Qualquer bombeiro sapador consegue ser bombeiro voluntário, mas nem todos os bombeiros voluntários conseguem ser bombeiros sapadores”

Fernando Campos

A “abertura de concurso para bombeiro sapador” foi o processo pela qual Nuno e Fernando passaram. Um processo trabalhoso, mas que no fim compensa todo o esforço dedicado. Este é um concurso público pelo Diário da República, em que a “Câmara Municipal especifica que pretende contratar” um determinado número de bombeiros. Nesse âmbito, existe uma “data de pré-requisitos” que os candidatos têm de obedecer.  As inscrições são direcionadas para a Câmara, à qual compete a função de verificar se está tudo em ordem. A partir do momento em que “preencham os requisitos passam à fase seguinte”, caso contrário “são eliminados.” A próxima fase consiste numa prova de conhecimento, aplicando-se o mesmo processo que na etapa anterior: “quem tirou a nota desejada passa para a próxima fase, se não reprova.” Os indivíduos que passaram tem de fazer “exames médicos” para ver se não há nenhum problema que interfira o seu trabalho. De seguida, começam as provas físicas e os psicotécnicos. A última etapa é a entrevista.

Bombeiros Voluntários de Vale de Cambra | Fotografia de Mariana Venâncio

Todo este processo é “exigente”: inicialmente são “selecionados 500 candidatos, mas só chegas ao fim com 27”, diz Fernando, acrescentando que foi isso que se sucedeu no seu ano de recruta e “pior” no ano de Nuno, “concorreram 600 e entraram 30”, refere. Se passar inicia-se uma nova etapa: o curso de bombeiro sapador. Este tem a duração de um ano. No final dessa temporada, “faz-se um exame, em que o indivíduo tem de obter uma classificação igual ou superior a 14 valores”, caso contrário está automaticamente reprovado e, dessa forma, não se torna um agente especializado de Proteção Civil.

O caminho até chegar a sapador é longo, diferente dos bombeiros voluntários, mas Fernando e Nuno conseguiram-no. Aqueles que não se conseguem tornar profissionais podem sempre “concorrer noutro ano, mas é preciso que a Câmara abra o concurso”, diz o subchefe principal. O que acontece, muitas vezes, “é que os indivíduos deixam de ter idade para concorrer”, dado que a “idade máxima é até aos 25 anos”, revelam.

Já os bombeiros voluntários podem concorrer dos 18 aos 35 anos junto do corpo de bombeiros da área de residência, inscrevendo-se como estagiários. Como estagiário, existe a obrigatoriedade de frequentar o curso de Instrução Inicial de Bombeiro, tal como José, Rita e Joana o fizeram.

Curso de Instrução Inicial de Bombeiro Voluntário | Infográfico de Mariana Venâncio

Os bombeiros têm de passar em todos módulos. Durante seis meses faz-se a escola e noutros seis o estágio. No final, um exame prático e teórico para conseguirem a promoção. A formação é feita nas respetivas corporações com formadores da Escola Nacional dos Bombeiros.

A “seleção é fraca”, considera Fernando Campos. “Não é como nos corpos de bombeiros profissionais: não têm provas físicas, nem psicotécnicos.” Se “concorrem 40 homens ficam 40 homens.” Um “indivíduo com 35 anos não tem a mesma capacidade física, psíquica, técnica de um indivíduo com 25”, afirma o antigo bombeiro voluntário, deixando bem claro que é uma mera generalização. Há que ter em conta que estão a lidar com vidas humanas. Se houver uma “boa seleção”, não quer dizer que “não haja falhas, mas à partida já se está a escolher os melhores.”

“Não adianta ser uma ‘barra’ a fazer contas e a nível físico perde completamente. Não adianta ser forte psicologicamente e não conseguir encarar determinadas situações. Como é que se faz um salvamento ao décimo andar se chegar lá em cima e está cansado?”

Fernando Campos
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Mariana Venâncio

Mariana Venâncio, 20 anos. Com muitos sonhos por realizar. Hoje, estou a concretizar mais um, estar no curso de Ciências da Comunicação. Ainda com sonhos pela frente, mas cada vez mais próxima de os realizar. Acreditar. Sempre! Gosto de sonhar. Faço parte da editoria de Saúde e é por lá que me quero aventurar!