Bombeiros em Portugal: um trabalho para além da farda

Voltar
Escreva o que procura e prima Enter
Bombeiros em Portugal: um trabalho para além da farda

Comandar é ter vida nas mãos

Ser comandante é assumir a liderança. É ser líder. É ter uma dimensão ética e promover a aceitação do risco e o cumprimento das tarefas. Os bombeiros praticam funções de risco para a integridade física e psicológica. Por isso, o comandante tem de os consciencializar que o perigo existe. Sem essa dimensão, é apenas alguém que se limita a dar ordens. Bruno Oliveira, Vítor Machado e João Nunes são comandantes nas suas respetivas corporações voluntárias.

Sem estar nos planos, a direção fez-lhes uma proposta para integrarem o quadro de comando. A proposta “vai para a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC)”, podendo ser “aceite ou não”, esclarece Vítor, comandante há 12 anos. Para tal, têm que “ter requisitos para as tais funções e sendo aceite, precisam de fazer formações específicas para ser cabimentado no lugar.” Os comandantes escolhem o resto dos elementos que querem ter a seu lado. Já o recrutamento para o cargo de comandante na companhia dos bombeiros sapadores é feito através de concurso por elementos licenciados com experiência de, pelo menos, quatro anos na área de proteção e socorro e no exercício de funções de comandando ou de chefia.

Dentro desse quadro as tarefas “são completamente distintas”, diz Bruno. O líder é o “treinador.” A distribuição e o trabalho não pertencem apenas a um, é divido pelos “treinadores adjuntos.” O comandante “toma as decisões e dá-lhes autonomia para executarem as suas missões”, declara João.  

Este “têm papeis para despachar, tem de ir à Câmara reunir”, se não for profissional, “muitas coisas atrasam.” Há ocorrências de “grande envergadura que requer” um elemento efetivo.

Quadros de Pessoal nos corpos de bombeiros | Infográfico de Mariana Venâncio

Comandar “é diferente todos os dias”, relacionam-se com “pessoas que têm várias formas de estar na vida.” É “um desafio.” É “motivar homens e mulheres, fazer com que se sintam responsabilizadas pelo serviço.”

Há que atribuir atividades aos elementos, desde “arrumar e limpar as instalações, veículos e operacionalizar equipamentos.” Existe a obrigação de dar aos operacionais, ferramentas que aumentem a resiliência, criar programas de treino físico e psicológico. Transmitir bom-senso e prudência.

No Teatro de Operações exige-se “três partes essenciais”, dizem os líderes.

Etapas no Teatro de Operações (TO) | Infográfico de Mariana Venâncio

Na estratégia, o comandante tem de “pensar no que fazer” face a determinada ocorrência. Cabe gerir a “organização operacional e a organização administrativa.” Há que fazer os “planeamentos, adotar as ideias, limá-las e no terreno colocar em prática”, afirma Nunes.  Isto “sempre dentro de uma estrutura hierárquica que faz todo o sentido.”

“O comandante é o principal responsável. É aquele que diz o caminho. É o último abandonar o barco”

João Nunes

Por vezes, exige-se que o comandante se dirija ao local. Quando está mais que uma entidade, “por exemplo, o INEM ou a GNR”, ou seja, “situações mais complexas e/ou de multivítimas”, faz sentido “ter um elemento diferenciador para congregar as várias entidades no terreno”, considera Vítor. Não é porque “eles não saibam resolver o problema, mas para apoiar os meus homens em primeiro lugar e assumir a responsabilidade”, admite João. Quando se sentem apoiados têm “outro à vontade para lidar com a ocorrência.” Este é o fundamento das prestações no teto de operações.

Lema dos Bombeiros em Portugal

Consoante a ocorrência procede-se a uma avaliação. Essa análise é feita em “todos os incidentes.” Quando recebem a chamada na central, já têm noção do que é necessário fazer, mas só quando chegam ao local é que a “estratégia é montada.” De “cinco em cinco minutos pode ser alterada, dependendo da evolução”, declara o líder Bruno.

É preciso saber que há momentos em que não se combate, para poder combater mais à frente. A prioridade é os homens e mulheres da casa.

“O meu pensamento, quando vou com uma equipa, é que eu vou com eles, mas também tenho de voltar com eles”

Bruno Oliveira

O lema de “vamos, mas não sabemos se voltamos”, para Bruno, não é correto. “Tem de se ir, mas tem de se voltar.”

Mariana Venâncio

Mariana Venâncio, 20 anos. Com muitos sonhos por realizar. Hoje, estou a concretizar mais um, estar no curso de Ciências da Comunicação. Ainda com sonhos pela frente, mas cada vez mais próxima de os realizar. Acreditar. Sempre! Gosto de sonhar. Faço parte da editoria de Saúde e é por lá que me quero aventurar!